quinta-feira, 26 de março de 2009

El Camino

Eu nunca fui muito bom com despedidas, eu confesso. Era o que eu te dizia quando eu botei a última mala no bagageiro da minha velha picape vermelha à diesel e te disse adeus pela primeira vez naquele verão californiano. Nós bebíamos num bar com um nome alegre , nós nos apaixonamos e Santa Mônica nunca mais seria a mesma. Mas eu era um gringo , um chicano em terra estrangeira , Porto Alegre me chamava de volta.

Depois , na praia mais longa do mundo , você é que me voltava à mente , em corpo e alma. E naquela imensidão de areia eu entendi porque Brian Wilson queria que todas as garotas fossem garotas da Califórnia. Mesmo que você também tivesse vindo de Nova York.

E hoje , eu me arrependo. A água quase marrom do Guaíba é ainda mais marrom e a Tristeza virou um martírio. Meu azar foi todo pelo Cassino. Mandei a noiva gaúcha à merda , garota eu vou pra Califórnia virar artista de desenho animado.

Nunca mais te achei. As únicas pessoas que te conheciam não lembravam teu nome. Nem teu rosto , o que é uma puta duma mentira. Aonde quer que você esteja , lembre-se dos meus riffs de guitarra e da minha pandeirola , que você tocava feito uma criança descobrindo a magia da música. So , I'm stuck , my pretty brooklyn girl. E mesmo que eu tenha dito adeus , I still keep you in mind.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Trompetes

Feito você , eu também estou estacionado
Mas você tem chances de sair por aí

Eu mesmo não me suporto agora.
Essa barba , esse tênis rasgado
E você cheirando a patchouli
Recordação olfativa da memória sentimental demais gigante que eu tenho.

Jerry Maguire em plena auto-estrada.

E é por isso que eu flerto
Com a queda todo dia.
Não é pelo contato estatelado
Com o chão do asfalto.
Só pelo gosto de sentir o corpo
A dez metros por segundo em aceleração.

No hope when my hope it's you.
É o que me faz te afogar só pra te salvar depois.

Essa dicotomia entre cerebrum e anima.
"Estranha essa necessidad de ser carne e música".

sábado, 21 de março de 2009

O Idiota

"Antônio, o garçon, me serviu, como de costume o sanduíche de salame com queijo provolone no pão francês, chopp gelado e o café expresso, curto e amargo, sem açúcar"
(Tony Bellotto , Bellini e a Esfinge)


O dia tinha começado cedo demais pra mim. E o pior: atrasado , pulei o café da manhã - um delicioso pedaço de bolo da Dona Zefa , minha vizinha - e tomei uma aspirina. O efeito era mais psicológico do que realmente médico: há tempos as minhas dores de cabeça não cessavam com aspirina.

Esvaziei o copo de café gelado e velho da garrafa térmica - o microondas tinha quebrado há tempos e eu sem um puto no bolso pra trocar o gás do fogão - e saí andando pra rua , torcendo para que o Pompéia ainda não tivesse passado. Por sorte , a única do dia , aliás , ele estava no ponto , prestes a sair , portas fechadas , farol vermelho. Bati na porta feito um condenado e o motorista abriu. Lógico , ao contrário de sempre , ele tava lotado. Parece que todas as velhinhas do bairro tinham resolvido fazer uma excursão pra rua Clélia às seis e pouco da manhã.

Justo hoje , amaldiçoei , justo hoje , que eu ia vê-la depois de três meses , eu ia chegar todo suado e amarrotado? Só de raiva , botei o velho Iguana pra tocar. Na época que o Bowie produzia o cara , ele tava mais na sarjeta que cachorro pulguento. Melhor que eu , provavelmente. Ao menos ele tinha cocaína e mulheres a qualquer hora e não morava num quarto-sala-cozinhainhainha alugado com três meses de atraso no Ipiranga. Éramos dois excitados pela vida , mas só eu era um passageiro do glorioso 478P-31.

Depois de carinhosamente me acomodar entre um armário Marabraz de nogueira e outro de marfim , os dois cheirando a suor , me pus a marcar o tempo das canções... here comes success , era sempre o que eu pensava quanto tinha de aturar aquele tipo de coisa. I couldn't escape this feeling , my china girl. A versão do Bowie parece um toque de celular perto da do Iggy. Por falar em celular , o meu estava tocando. Pedi a Deus pra que não tivesse de esbarrar nos maçanetes dos armários. Atendi o celular. Ela.

- Oi... Promete que não vai ficar bravo?
- Fala vai , eu já tô acostumado...
- Eu perdi a hora. (Bocejo). Desculpa... depois a gente se fala.
- Tá , tá , vai pra escola , isso é importante. Depois a gente conversa.

Oh sweet sixteen. Tá , às vezes não tão sweet quando eu desejaria , sixteen mais madura que eu. Bom , pelo menos agora eu podia ficar amarrotado em paz. A barriga urrava por comida e o ônibus não andava. O trânsito de uma sexta-feira véspera de carnaval prolongado podia ser meio punk , mas às seis e meia da manhã? Finalmente , a Paulista. Desci no primeiro ponto que dava pra descer - ou seja , uns três depois do meu , dada a lotação do ônibus - , já que eu tava meio cansado de contrariar as leis da Física. Vale sempre lembrar: em um ônibus qualquer cabem até três corpos no mesmo lugar. Num Cidade Tiradentes , cinco.

Assim que eu desci , entrei no primeiro boteco disponível e pedi dois pão com manteiga na chapa. A dor de cabeça continuava a pentelhar. Os pão com manteiga vieram gordurosos e sem sal. Foda-se , ao menos era comida e tão barato que era até troco pra mendigo. Passei na primeira banca de jornal e comprei um Notícias Populares.

O NP virou capa de chuva , deixando escorrer sangue e água de suas páginas. Cheguei na faculdade todo ensopado. PUTAMERDA! Produção em massa de cérebros , irmã meia-noite. Mas hoje à noite vai estar tudo certo , e eu escolhi viver. E não uso um All Star branco.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Escorre

"Lust for life , i'm lust for life"
(Lust for Life , Bowie & Pop)

A vida escorre aos poucos.
E vem em porções pequenas.
Os dias são longos,
Os anos são curtos.

Minhas mãos já não conseguem agarrar.
É natural que se escreva sobre alguém
quando se está apaixonado por ele.
And so , i'm LUST FOR LIFE.
(e tem gente que ainda não consegue gostar do Plant).

Mas tudo bem , estou de bicicleta
A cento e vinte por hora
Meus amigos me conhecem bem
Criatividade cem , eficiência zero.
A vida escorre aos poucos.

Mas rápido.

domingo, 15 de março de 2009

Lavou a Louça

"Quero terminar com ela uma conversa sobre umbigos e besouros"
(Madona , Rubem Fonseca , in A Coleira do Cão)


A semana tinha sido do cacete. Todo dia saindo às cinco e meia da manhã , chegando só às oito em casa. E ainda tinha uma gripe lascada. Vida de solteiro é uma merda , disse ele a um amigo na quinta à noite. Cada minuto que passa as atenções mudam de um ponto pro outro , o que foi pro chão tá no céu e o que tá no inferno volta pro purgatório. O último amor platônico tinha virado pro mar , decidiu voltar e agora ele tentava afogar um gato. A árabe tinha um namorado , putaquepariu , mas ela era tão cool. E a minêra aparentemente ingênua gostava de Led Zeppelin. Pessoas são estranhas e nos surpreendem. Mas ultimamente quem era normal é que surpreendia.

Mas não era nisso que ele pensava quando saiu esse sábado. Pensou que fazia quase um ano que não tinha ninguém novo na sua vida. Tomou um banho , penteou o cabelo recém-cortado que ele ainda não havia se acostumado , botou uma camisa pólo preta , calça jeans , o velho All Star e foi pra avenida Central. Era aniversário de uma velha amiga , num barzinho , a velha coisa que o irritava pra cacete , é festa , então paga! Mas era uma chance , ela tinha mudado de colégio e conhecido novas pessoas. A gente nunca sabe o que nos espera , num sábado à noite.

Passou na casa do Zé , parceiro de sempre , dez anos de amizade naquela semana. Caralho , dez anos passam rápido maluco! Ele ainda lembrava quando chegou na escola como um moleque indefeso de óculos gigantes querendo puxar conversa sobre Fórmula 1. Poisé. O pai do Zé mandou ele passar lá depois pruma cerveja. Ele não bebia. Pegaram um ônibus e saíram andando. Na descida do ônibus , o Juca liga. Putz , o Juca , um cara que tinha estudado com eles até a quinta série. Corinthiano maloqueiro e sofredor , rico pra cacete , pegador. Fazia todo final de semana o circuito Central-Bananeiras. Bebia e fumava. Talvez já tivesse até cheirado.

O aniversário da amiga tava marcado pras oito. Era nove horas , tava tranquilo. Barzinho sempre dura até uma , duas da manhã fácil. Andaram pra lá e pra cá na Central tentando achar alguém. O Juca se cansou , fumou um cigarro e deixou eles na esquina do Habib's. Dez horas. Vamos entrar no barzinho , Zé? Vamos. Chegando lá , os amigos do colégio do Zé na porta. Um bando de babacas. Ué , onde cês tavam? Achei que vocês não vinham mais. A gente tá indo embora já. Ah mano , festinha miada. Vamos voltar pronde o Juca tá? Putz , é ele ligando. O Juca disse que encontrou os caras do prédio do Zé , o Marcão e o Renan. Eles tão de carro , vão passar aqui. Ah , sei lá , Zé , vamos entrar? Entraram. A entrada era cinco conto. Subiram. A amiga estava saindo já. A gente tá indo pro Habib's. Mas vocês só chegaram agora? A gente tava dando uma volta... sacumé. Deixa que eu pago pra vocês. Não , não , a gente não vai pagar , Taís. Acho injusto.

Chega no balcão e grita: OLHA, EU TÔ AQUI SÓ HÁ CINCO MINUTOS E VOU EMBORA , NÃO VOU PAGAR ESSA MERDA. Não é assim que funciona , eu sei que você tá só há cinco minutos aqui. FODA-SE. Não paga. FUI. O Zé ainda ficou lá pra conversar com o cara , se pá passar um xaveco. Saem do barzinho , o Marcão e o Renan no carro. E aí , que cês tão fazendo? Ah , a gente veio aqui , mas eles tão indo embora. A gente só precisa estar aqui à uma da manhã. O nosso herói , ele pensa. Essa vai ser mais uma noite perdida , meu deus.

Mas como disse alguém , ou você vive ou você escreve. Dessa vez ele decidiu viver. Entrar no carro , no banco de trás. Toca pra Bananeiras , Marcão. Um carro a 60 km/h já é capaz de fazer estragos. Principalmente quando se está no banco de trás , vento na cara e techno "oieusoubaiano , beijomeliga" tocando ensurdecedoramente alto. Os moleques berravam por cima da música já alto , um grave que fazia ele pular no banco de trás. BOTATECHNO , NÃO , BOTAFUNK. CAÇAAQUELASMINASNOPALIOLARANJA. OPALIOLARANJA , ALINAFRENTE , TOCANDOFUNK! VOCÊACHAMESMOQUEAQUELASMINASTÃOOUVINDOFUNK? BOTAUMPSYEEMPARELHACOMELAS. FUNKDELADRÃOVELHO. AH, ELASPASSARAMOFAROL. PUTA. ACELERAESSAPORRA , ACELERA. AHMARCÃO , CÊÉFRACO. EUCHEGOANOVENTANESSALADEIRAFÁCILCOMOGOL. VAISUCODECOCOAÍ? ESSAPORRATÁCHEIADEPORRA. CÊSVÃOFICARNOHABIB'SMESMO? VAMO. PARAOCARROAÍMARCÃO, DEIXAAGENTESAIR.

Ufa. Dez e meia maluco , disse o Zé. Tá a fim de ir na Blockbuster? Brincadeira , Zé. Nosso cavaleiro das trevas continuava sem sorte. E sem achar a amiga no Habib's. Nem no Ragazzo , que ficava do lado. Quer dizer , olha ela lá , na porta. Ai que bom que vocês vieram. Desculpa , tá tudo muito miado hoje e eu tô desmarcando tudo. Fica tranquila , Taís. A gente nem precisou pagar , fomos pra Bananeiras e voltamos em meia hora. De carro , claro. Ai , eu odeio esse sapato e essa meia arrastão. Você quer que a gente te carregue? Feito uma princesa , a amiga foi carregada de cadeirinha. Quase uma liteira. Mas finalmente eles chegaram no café.

Ah , o café. Um sofá. Chá com limão e água com gás. Só água com gás é... Não , essa era outra noite estranha. E nada de nenhuma guria. O Belchior tentava a única decente. E ele era melhor amigo do Zé. Ah , desisto. Decidiu aproveitar o ambiente e curtir a noite. Pagou a conta , deu um último beijo na mão de sua amiga. Parabéns , minha querida. Foi pra fora. A única decente tava sozinha e jogou um olhar. Até podia tentar. Mas um beijo só não seria stoniano o suficiente pra ele.

Quente e frio. No carro do Zé. Do pai do Zé , digo. Boa noite , brigado pela carona. Seu pai dormia , as luzes apagadas na janela. Chegou em casa e lavou a louça. Puta merda.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Coming Soon

Sim , eu ainda tenho vida.

Eu espero. Pelo menos o meu HP ainda tá no verdinho. Pena que eu ainda tô no começo da caverna do Moltres e ainda falta MUUUUUUITO pra chegar no Plateau Indigo. (referência nerd mode off)

Em breve , eu prometo: alguma coisa ficcional sobre a minha vida , algum tipo de desabafo e um artigo sobre a Lasciva Lula , procurando cavoucar algo mais além de simples acordes e gritarias.

Cenas dos próximos capítulos em breve.

(Até porque vida de solteiro é uma merda: montanha-russa do caralho , mil vais e vens pra chegar no final com uma sensação de cansaço - principalmente se a montanha-russa for velha).

"Aquele abraço pra quem fica" (Chico)

segunda-feira, 9 de março de 2009

Décimo Quinto Passo

"How come end up where I started?"
(15 Step , Radiohead)

Diversas chicotadas soam no ar e uma luz se acende. Meu corpo dói , inflamado. O sangue espirra pelo chão do quintal e de repente , mergulham-me numa piscina e me dão choques elétricos. Cold turkey , my fella. Desmaio.

Acordo. Uma sala , uma cama , uma enfermeira loira peituda , à maneira clássica dos filmes pornográficos , me acorda e me cura. Mas as chicotadas persistem , agora na minha cabeça. Décimo quinto passo. Quando eu percebo , são milhares de enfermeiras , cantando pela minha recuperação. Feel me see me heal me kiss me.

Um homem de voz grave se aproxima , crianças gritam de alegria no jardim. Chicotadas e chicotadas , um ganido de dor , uma voz aguda. Totalmente descerebrado. Beat box. Theremin. Ruídos e mais ruídos. Desmaio. Morte.

...

- João , João , acorda!
- Mãe?- Tá tudo bem contigo , meu filho? Você estava se debatendo na cama...
- Tá , tá tudo bem sim. Agora tira o disco do Radiohead do cd player , põe uma coisa pra eu dormir em paz , pode ser? Aquele novo do Sigur Rós...

sexta-feira, 6 de março de 2009

A Seleção de 82

"A derrota de 50 e a campanha de 70 pertem totalmente seu sentido"
(Nando Reis , "Meu Mundo Ficaria Completo (Com Você)").

Você é como a seleção de 82 , que no papel pode até ser melhor que a de 70. Mas que não deu certo. Você tinha a graça do futebol moleque do Chulapa , a segurança do que queria como a defesa de Oscar e Luisinho , a força de me conquistar com apenas um olhar como o chute do Éder. A beleza de uma jogada do Zico , a inteligência do Doutor Sócrates e a calma do mestre Telê.

Mas veja bem , meu bem. Você e eu começamos capengando , que nem naquele jogo contra a Venezuela nas Eliminatórias - um gol chorado de pênalti do Zico no finzinho. Depois foi só alegria por ali , um baile latino em cima da Bolívia , um beijo mais doce ao som do Santana.

A primeira briga foi como o jogo com a União Soviética: difícil , mas no fim tudo acabou bem. E ficou tudo tão bem que a gente deslanchou e eu te pedi em namoro no último jogo da primeira fase , contra a Nova Zelândia. Não tinha jeito de não dar errado , mas deu. Você ficou assustada ou , envolvida pelo canto do povo nas ruas com mais um triunfo canarinho , acabou fugindo e não quis me dar uma resposta.

Liguei , liguei , liguei e nada de você atender. Dei pra beber com os amigos no dia do jogo contra a Argentina , achando que íamos perder: Diego Maradona e ausência do meu melhor talismã. Mas no calor da partida nós ganhamos e naquela noite eu atendi um telefonema seu pedindo desculpas. Combinamos um encontro praquele fatídico dia 5 , na hora do jogo. Claro que como bom brasileiro eu protestei , mas você insistiu que era importante.

A imprensa dava a vitória como certa. Até o próprio técnico da Itália disse que enfrentava os futuros campeões. Levei meu radinho de pilha no bolso , já que você sempre se atrasava. Quando você chegou , o jogo estava em 1 a 1. Me disse que tinha encontrado um italiano nas ruas da cidade entre o jogo da Escócia e da Nova Zelândia. E tinha se apaixonado por ele , se jogado nos braços dele , più bello ragazzo tifoso della Squadra Azzurra. Enquanto isso , diziam os garçons , o maldito do Paolo Rossi enfiava um último gol aos 74 minutos , golpe de misericórdia.

Joguei a cadeira pro alto , saí andando pra nunca mais te ver , sua bambina irresponsabile, e nunca mais comi pizza nem espaguete na minha vida.

terça-feira, 3 de março de 2009

Joaquin Rodrigo

Não , eu não sei nada sobre a sua vida.
Mas ele é um gênio.

O Concierto Aranjuez
Não é assim uma Nona de Beethoven
Ou uma Jesus Alegria dos Homens
Mas é uma das coisas mais lindas
Que o ser humano já criou
Em termos de sons.

Comparável apenas ao choro do filho
O estalar do beijo da mulher amada
O som de chuva caindo num dia de verão
E a voz dos amigos na mesa de um bar

(O abrir da Coca-Cola não vale.
Até porque Brian Wilson já o usou).

domingo, 1 de março de 2009

Fragmento de um Romance Inédito #5

"Parei pra escrever os meus pensamentos
E olha só pra você ver o que eu escrevi"
(SNJ , Pensamentos)

Ana Rosa , Luz , Vila Mariana. Toda segunda e quarta eu fazia esse trajeto , levando a Sofia pra pegar o trem. Eram momentos mágicos aqueles , a gente não fazia nada além de conversar abraçados , rindo e se beijando. Eu a levantava no colo , pegávamos o metrô , eu esperava o trem dela chegar , sentido Guaianazes , eu já nem me lembro mais.

E voltava pro meu inglês , ouvindo um velho rap com rimas que são até bem constrangedoras , uma cantora que puxava o R , outro que parece não falar em português , uma base de poucas notas num teclado , encostado na janela , sonhando acordado.

Hoje eu não faço mais inglês. Não tenho mais a Sofia. Não faço mais esse trajeto. Não pego mais trem, a não ser quando eu vou pra casa do Zé e preciso chegar cedo em casa. Mas ainda tenho o bom e velho rap inocente , pensamentos que voam como vento , se livrar e não lembrar de maus momentos.

Porque , diz a letra , tudo que vai volta , sorrindo com a vitória , chorando na derrota , penso , relembro , dessa vez talvez eu aprenda. Nada mais , nada menos , pensamentos.