sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Dou Fé

Nada que uma fila burocrática não faça... ademais , é só um recomeço.

Como é triste o homem do cartório...

Carimba e assina e confere e cobra
Confere e cobra e assina e carimba.
Cópias autenticadas sem valor econômico ad nauseam
Repetidas em três laudas com firma reconhecida

Todo dia a bater o ponto
Chamar o próximo e o próximo
Uma fila que não acaba nunca
O relógio que nunca chega às seis.
Uma vida que se acaba rápido...

Como é triste a vida do homem do cartório!

(Dou fé, neste ano de Nosso Senhor Jesus Cristo de dois mil e nove, pela autoridade a mim reconhecida, que estas linhas supracitadas conforme datavênia doravante nada significam).

domingo, 4 de outubro de 2009

(Vivo?)

Só pra dizer que eu tô vivo mesmo , passando bem e respirando.

É que nos últimos tempos eu tive de trocar a ficção pelas redações da versão etapada da Vênus das Peles e me concentrar com periféricos e teses em vez de motoboys e ônibus lotados. E não as publico aqui pois tenho pena do tempo de vocês. XD

Enfim.

Seguimos com o Eduardinho way-of-life e tá tudo certo.
Ro-naldo!

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Sobre a Arte de se Fazer Uma Mixtape

Um post atípico, só pra comentar essa que é uma das atividades mais divertidas dos tempos modernos. Ou praqueles 10 minutos que faltam do tempo mínimo de um Simulado NENEM. ¬¬

Gravar uma coleção de músicas não é tarefa pra qualquer um. Não é simplesmente escolher uma seleção de dez (como cabiam nas antigas fitinhas K7 que meu pai ou Rob Fleming gravavam) , quinze ou vinte canções (nos CD-Rs que hoje a gente usa e que sinto que entrarão em extinção com pen-drives. Vale lembrar: um pen drive com quinhentas músicas passa longe de ser uma boa mixtape). Tem que saber escolher e ter noção.

Depende , é claro , do seu propósito com a "fitinha". Se você quer pagar de mala com aquele seu amigo que também literalmente escava bandas , se você quer impressionar aquela gata da sua sala , do seu escritório ou do seu prédio , se você quer simplesmente mostrar quem você é a uma pessoa desconhecida. Bom senso é fundamental. As regras variam de acordo com o objetivo , mas algumas coisas são fundamentais:

1 - Nunca coloque as músicas mais "arrasa quarteirão" de uma vez só. A pessoa que vai ouvir se entusiasma com as primeiras , depois cansa e seu disquinho foi pro buraco , amigo.

2 - Pense numa sequência pras músicas se encaixarem. Ou simplesmente tenha noção de aumentar ou diminuir os bpm's ao longo do tempo. Colocar Ramones e depois Joan Baez pode fazer todo o sentido do mundo pra você , mas vai chocar o ouvido do seu alvo. (A menos que ele seja aquele vizinho chato que você quer literalmente irritar).

3 - Não seja desleixado com o visual. Uma idéia visualmente bem apresentada ajuda. E muito.

Tem outras coisas , mas aí é muito particular: tem gente , como eu , que gosta de escrever alguma coisa sobre a seleção em geral ou sobre as músicas em particular. Cada música tem um pequeno significado , uma razão de estar ali , ora essa!

Claro que fazer tudo isso dá trabalho. Mas é muito divertido! Eu juro. Mesmo. :). O que você está esperando pra fazer a sua?

domingo, 23 de agosto de 2009

Menino, Menina

"Vem morar comigo nesse apartamento
Estamos uns sobre os outros
E temos satisfação"
(Pavão Macaco, Wado)


Sim , agora eu quero ir a fundo nisso tudo. Agora que você sabe que eu já te amo tanto e eu sei que você me ama, eu quero conhecer seus pais , seus irmãos , seus avós e a sua cachorra. Quero te chamar pra tomar um sorvete no domingo à tarde com sol na pracinha perto da sua casa, um vestido florido e uma flor no cabelo.

A ordem das coisas se altera sem você. Os livros da estante continuam lá , intocados , a não ser por algumas palavras que eu roubei deles pra te fazer sorrir. Os meus discos também já não tocam mais. Tudo o que eu quero ouvir é o som da sua voz , meu abrigo e meu destino. A vontade de te encontrar (e eu não encontro razão) , uma mensagem de amor.

E enquanto o tempo passa rápido demais , eu não vejo a hora dele passar mais rápido ainda. Eu quero ir morar com você , esperar você chegar em casa com a comida pronta e a mesa posta à luz de velas. Eu quero te dizer boa noite e bom dia todos os dias , ver o teu sorriso antes de sair correndo pra rua. Dormir ao teu lado , tendo certeza que eu divido a cama com a mulher que eu amo.

Terna e totalmente , amo.

sábado, 22 de agosto de 2009

De Maneira Alguma Tragicamente

É muito tarde , é tão tarde que eu mal consigo escrever um texto inteiro e mantê-lo com nexo. Eu não sei exatamente o que eu quero dizer agora, uma vez que meus ossos doem depois de dias e dias nesse deserto de sal e concreto que me quebra em duas partes e acaba sendo o que importa. (Mesmo que hoje eu só cante a canção do velho Zé Rodrix).

Mas no fundo , no fundo , eu só sei de uma coisa: eu queria ser apenas aquele muro vermelho pichado no caminho do metrô (de maneira alguma tragicamente).

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Deserto de Sal

Mesmo com todos os lados bons e os fatos felizes que habitam a minha vida , há a impressão de viver num deserto de sal. (Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo).

Deserto de Sal
(Wado/Alvinho)

Se a tristeza fosse tanta que permanecesse muda:
Então seria pior
Ainda há esperança no chorar soluçante,
No cantar gritando
Nos ombros, como papagaios, carregava corvos
E dentro dos lábios o silêncio mudo
No peito um cemitério de ex-amigos mortos

E enterrar os mortos, desapegar os ossos
Confirmava a vida o que é bom: desprendimento

Ainda há vontade de andar: o que é bom
E embotado nos olhos,
O negrume vazava de dentro da carne

No peito um cemitério de velhos sonhos mortos
Nenhum plano vagava no deserto de sal
E num dado momento parecia até que o sol ia nascer
E era mais uma estrela decadente
No deserto de sal

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Luz de Poste da Rua

Para Camila de Lima Leal

"Amo somente o vazio e me acalmo danando"
(Me Acalmo Danando , Ângela Rô Rô)

Ela abre a janela e fica pensando na vida. Nas tantas mudanças de casa , num mundo melhor , na solidão de se viver numa cidade grande sem amigos por perto pra chamar prum passeio a qualquer hora num dia de semana. A luz do poste da rua ilumina a sua face justamente no momento em que ela só pede um cigarro e um copo de cerveja pra poder dormir feliz.

Há alguns meses que ela não sabe o que é sentir um cara. Não no jeito físico , isso é facilmente resolvível em um canto ou buraco , uma ida pra cidade antiga , qualquer coisa enfim. Ela precisa de um homem. Um homem que ela possa ligar às três da manhã pra não se sentir sozinha. Um cara atento às suas necessidades , mas que ela não precise dar satisfações. Que esteja lá pra lhe dar bom dia e dizer que ela é linda com um sorriso no rosto e uma bandeja de café da manhã na mão pra ela tomar na cama.

Mas ela não vê esse cara no seu mundo. Ele simplesmente não existe , e os que existem ela descobre um jeito estranho de repeli-los. Talvez não seja um problema dela , seja simplesmente o mundo moderno - old fashioned boys and post-modern girls. Ninguém sabe o que fazer nesse momento. Nem ela mesma.

São cinco horas da manhã. O sol começa a sair tímido na janela do seu quarto. É um novo dia a ser encarado - sem qualquer esperança de novidade. Mas com uma xícara de café fumegante pra aquecer seu coração. Por enquanto.

domingo, 19 de julho de 2009

A Marcha dos Invisíveis - Terminal Guadalupe

Remoendo os arquivos , eu encontrei essa resenha aqui do Terminal Guadalupe, feita há uns dois anos. É engraçado ver como as coisas mudam - hoje a banda quase acabou e ressurgirá no segundo semestre com nova formação , só remanescendo o vocalista Dary Jr. Enfim , ainda resta a idéia de que este é um dos grandes discos da década.

Terminal Guadalupe - A Marcha dos Invisíveis - 2007

Se há uma banda , que ao meu ver , tem a chance de alcançar o caráter messiânico da Legião Urbana e dos Los Hermanos hoje em dia , essa banda é o Terminal Guadalupe. Vindos de Curitiba , o quinteto liderado por Dary Jr (vocais e letras) e Allan Yokohama (backing vocals , guitarras e melodias) faz um dos melhores discos nacionais de 2007.

A abertura é com "Terminal Guadalupe" , canção que explica o nome da banda através da indignação com o mito que Curitiba é uma cidade desenvolvida("onde começa e acaba o mito/que trás perfeição(...)a tal cidade européia/só existe na ficção") - Guadalupe é o nome de um terminal de ônibus que divide a cidade entre a zona rica e a pobre. (N. do E: Eu guardo a mesma sensação com São Caetano do Sul).

"Pernambuco Chorou" , na sequência , é baseada no filme "O Prisioneiro da Grade de Ferro" e questiona a posição coxinha do rock nacional ("Quanto quem vende atitude/em comercial de refrigerante") e o sistema carcerário brasileiro. "Atalho Clichê" começa com um empolgante riff e discursa sobre erros e acertos , desculpas e confusões. "El Pueblo No Se Va" joga a discussão para o âmbito mundial , falando em dívida externa e a América Latina.

"O Segundo Passo" é uma grande balada que revisita a idéia da filosofia grega de que é "impossível entrar num rio duas vezes" para usá-la como incentivo ao carpe diem. Em seguida , vem "De Turim a Acapulco" que dispara imagens de loucura e incompreensão pra falar de escapismo e amor. Pra finalizar , a politizada "Praça de Alimentação" atira para todos os lados da política nacional ("A coleção de inverno do tucanato/E as roupas íntimas dos neo-petistas/A decadência das elites baianas") e instiga os jovens a não se alienarem. Se a mensagem chegará aos ouvidos de quem precisa ouvi-las , não se sabe ao certo. Mas que este é um grande disco , com certeza é.

A Marcha dos Invisíveis - 3º disco do Terminal Guadalupe. Produção de Tomás Magno , gravado na Toca do Bandido(RJ). Terminal Guadalupe é Dary Jr. (vocais e letras) , Allan Yokohama(guitarras e voz) , Lucas Borba(guitarras) , Rubens K(baixo) e Fabiano Ferronato(bateria). Tracklist: Terminal Guadalupe , Pernambuco Chorou , Atalho Clichê , Recorte Médio-Oriental , A Marcha dos Invisíveis , Cachorro Magro , El Pueblo No Se Va , O Segundo Passo , De Turim a Acapulco , Praça de Alimentação.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Roxão (O Nome do Peixe)

Enquanto eu estou em Itatiba , um texto aleatório pra vocês se divertirem. Nada de mais , já vou avisando.

Às vezes eu não acredito nos amigos que eu tenho e nas bobagens que eles são capazes de falar. O pior é que muitas vezes essas bobagens fazem todo o sentido do mundo. O Juca , por exemplo , me ligou essa semana pra me chamar pra ir na casa dele ver o clássico e a conversa acabou indo parar no peixe que o irmão dele , o Gustavo , ganhou.

- Mano , meu irmão ganhou um peixe. Sobrou pra mim alimentar o bicho , vê se ele tá bem , só trocar a água que ainda não...
- Se fudeu!
- Mas logo menos eu vou ter que trocar a água... e sabe o que é foda? Os nego aqui de casa não deixa nem eu escolher o nome do peixe!
- Mas o peixe é do teu irmão!
- Ah , mas sou eu que cuido... Eu quero que ele chame Mano Peixe.
- Pô , da hora... Mano Peixe é um nome muito foda
- Mas não , o povo aqui quer Roxão. Porra , ele já é roxo , vai ter roxo no nome...
- Roxão é mancada. Prefiro Mano Peixe.
- Ô! Mano Peixe... é mais legal até. Quando ele for fazer entrevista de trabalho... "prazer, Roxão".
- Só se for pra trabalhar no circo...
- Então mano , o que eu tô te dizendo... "prazer , Mano Peixe". Impõe respeito , tá ligado?!
- Tô! Concordo contigo!
- É foda... não pensam no futuro do peixe , meu!

sábado, 11 de julho de 2009

Feliz Ano Velho , de Roberto Gervitz

Feliz Ano Velho , de Roberto Gervitz

O letreiro no começo do filme já indica que esta é uma livre adaptação do livro homônimo do Marcelo Rubens Paiva. Tá , tudo bem , mas precisava carregar tanto assim nas tintas? A história do livro já é bem batida mas não custa relembrar: Marcelo , estudante da UNICAMP e filho do deputado Rubens Paiva , dá um mergulho e sofre um acidente , ficando tetraplégico. O livro conta a história da recuperação do moço e acaba por traçar um painel da juventude da virada dos 70 pros 80 , com muita sinceridade e deixando um sorriso no rosto do leitor. Marcou época , sendo lançado na Cantadas Literárias da Brasiliense.

Já o filme de Roberto Gervitz resolveu se esconder na famigerada "livre adaptação". Transformou Marcelo em Mário , inventou personagens a mais e exagerou na dose. O que era reflexão e riso no livro virou confusão e apatia no filme. Marcos Breda , que interpreta Mário , não tem carisma e muitas vezes fica com cara de bunda. O núcleo dos deficientes físicos não se salva muito , seja pelo pseudoauxílio de Marco Nanini como Beto ou a rebeldia inútil do personagem Arnaldo.

Quem realmente dá alguma alegria à trama é Malu Mader - nos dois papéis de fêmea de Mário: Ana , a paixão platônica de colégio que vira namorada na universidade , e Angela , a bailarina - , Carlos Loffler e seu Klauss (mesmo que a música que os dois cantem seja horrível) , Betty Goffman (Soninha) e Julio Levy (Gorda). Eva Wilma como Lúcia, a mãe de Mário, também não decpeciona.

A fotografia e a direção de arte deixam muito a desejar. Talvez pelos excessos dos anos 80 ou pelo baixo orçamento disponível à época , a opção de carregar nos tons escuros e frios por muito tempo das cenas torna a história pesada e entendiante. A trilha , essa também não ajuda. Enquanto o livro falava muito de Gil, Caetano , Beatles e rock'n roll , o filme fica só nos sintetizadores repetitivos típicos da década.

Talvez seja esse o grande problema do filme. A década. Primeiro: investimentos pra cinema no Brasil dos anos 80 eram quase nulos. Segundo: a cafonice do audiovisual da época contaminou o filme. Se fosse refilmado hoje , nas mãos de um cineasta competente como Jorge Furtado , faria miséria. Aqui entre nós, vai: leia o livro , esqueça o filme.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Mudança

"We're going home
You and I have memories

Longer thanthe road that stretches out ahead"
(Two of Us , The Beatles)

Ando meio aéreo nos últimos dias. Não sei se é simplesmente a sensação de perceber o tempo se esvaindo pouco a pouco - e as férias são terríveis para isso , ainda mais essas de agora quando eu ouço cada vez mais perto o grito de "School's Out" entalado na garganta. Entalado? Taí uma coisa que eu não sei ao certo. Eu reclamo e reclamo , mas eu gosto da escola. É bom ter esse esquema de esforço e mérito - você trabalha e é recompensado por isso. Dá orgulho de ver aquele 10 no alto da folha. Não sei - e provavelmente não vai ser a mesma coisa com o meu editor-chefe.

Mas como eu vinha dizendo - aliás , marca essa horrível pra voltar ao texto depois de uma digressão inesperada - o tempo passa e e ando aéreo. Terça que vem eu mudo de casa. Não é só uma simples mudança ,mas é a primeira vez que eu mudo desde que eu nasci. Meus últimos dias têm sido completamente marcados por encaixotar coisas e ajudar meu pai com os móveis novos - ele resolveu que ia fazer e restaurar uns móveis pra casa nova, precisa de ajuda (mão de obra barata e escrava , como ele diria) e acaba sobrando pra mim. Ok , ajudar é legal e não só vagabundear também , mas poxa , eu queria descansar e ler... mas não , vamos mudar pra "casa nova".

E é bem engraçado pensar nisso: essa casa nova não vai ser "a casa da infância , onde eu cresci" , mas apenas um complemento do rito de passagem. Ninho estranho , novo e bonito , mas que eu pretendo abandonar logo - morar sozinho em Sampa é um dos meus primeiros objetivos depois de começar a trabalhar em algum lugar. Talvez por isso eu ande aéreo. Pros meus pais é a casa dos sonhos. Pra mim é só mais um estágio , e tento economizar forças pros próximos saltos.

Sei lá , só um desabafo. Ou uma maneira de dizer: ei , vou ficar fora por uns dias porque eu tô mudando de casa. Querido diário, eis o último escrito da João Galego 168. Vai deixar saudade. =).

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Apenas o Fim , de Matheus Souza

Apenas o Fim - Matheus Souza - 2009

Antes de tudo, umas poucas palavrinhas sobre este artigo. Ele não vai falar de coisas muito importantes (também) nesse filme , a saber:

1 - Erika Mader é uma das atrizes mais lindas da nova geração do cinema brasileiro.
2 - É possível sim fazer cinema barato e de qualidade para as massas no Brasil.
3 - Queira ou não queira , Los Hermanos é uma banda muito foda (mas o "4" é um disco bem porco) e influente na geração 00 com mais de três neurônios.
4 - Criticar o estilinho nerd do "Antônio" (o personagem vivido por Gregório Duvivier) , com camisa pólo e óculos sem grau roubado do avô.
5 - Pagar de mala e falar sobre a influência de "Before the Sunrise/Sunset" e Kevin Smith em Matheus Souza , diretor do filme. E claro , sobre a similaridade filha da puta com o Clube do Takeda.
6 - Um cara em cima de um cavalo branco pode tudo.

O amor acaba , e aí? O que fica? Uma caixa de pizza , uma embalagem de hambúrguer , um copo de plástico com a borda mordida onde antes havia Coca-Cola? Ou talvez nem acaba , só fica em suspensão , sem saber onde vai ou quando volta. Muitos são os descaminhos , mas o fim é , como diz o nome do filme , "apenas o fim". O amor acaba , o resto fica.

Ok, o mote da trama é bem simples. A garota dos sonhos de qualquer cara (Erika Mader) namora o nosso pequeno nerd hero (Gregório Duvivier). Ele tem uma prova na faculdade , ela anuncia que vai embora pra sempre em uma hora. E nessa hora , eles conversam sobre o relacionamento deles , clichês amorosos (e o clichê que é falar de amor e o clichê que é falar que é clichê falar de amor) e pequenas coisas: Pokémons (Bulbasaur) , boybands (Backstreet Boys) , a música preferida , videogames (Nintendo). Você já viu isso antes e não é a última vez que verá.

Lógico que o cerne do filme é diálogo - e apenas entre os dois , uma vez que as outras personagens que aparecem por alguns instantes nada contribuem para o ritmo da história , nem na pequena metalinguagem da cena com Marcelo Adnet. E parece ironicamente alegórico que as influências externas só atrapalhem - a história , um relacionamento , enfim.

São os detalhes que ficam. O amor acaba um dia. Fisicamente , presencialmente. Os momentos especiais permanecem , impressões digitais por toda a parte , qualquer estante ou fundo de gaveta ou caixa de sapatos mostra isso. A gente sabe que vai acabar , desde o começo - e a graça é se envolver e achar que não , acreditar que não. E o fim? Muitos são os descaminhos , mas o fim é apenas o fim. O amor fica , o resto acaba.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Singles , de Cameron Crowe

Singles - Cameron Crowe - 1992

Quando se é solteiro , seus amigos são as pessoas mais próximas, companheiros de cerveja , de truco , de música , de falar bobagem. Estão todos na mesma , correndo atrás de alguém ou fingindo que não querem nem correr pra não ter problemas. Quando se é solteiro , vai-se para a noite sem qualquer preocupação e com apenas um objetivo: se dar bem até , pelo menos , a manhã seguinte.

É mais ou menos essa situação e época que Cameron Crowe decidiu retratar em seu segundo filme , "Singles" (traduzido aqui com o decente nome de "Vida de Solteiro"). O lugar? Seattle , início dos anos 90 , o que deu-lhe de presente uma trilha sonora pontuada por Alice in Chains , Pearl Jam , Chris Cornell , Pixies e ainda o mote para o personagem de Matt Dillon , que nos rende boas risadas com a sua banda Citizen Dick.

Crowe nos oferece um painel de histórias: a garota que quer fazer uma cirurgia em seus peitos para agradar o namorado , a vizinha que quer arranja marido e entra num programa de encontros por vídeo , o jovem bem-sucedido com uma idéia e sem uma garota e a garota bem-sucedida com planos e sem um cara , a gravidez indesejada , o amadurecer e ir atrás de seus sonhos , aquele velho blábláblá de sempre.

Mas há de se destacar que nem sempre esses temas são levados com a leveza e a maneira que Crowe nos propicia. Não chega a ser seu melhor filme (ele cresceria muito mais em "Jerry Maguire" e deste para "Quase Famosos" ainda mais) , mas é um acerto , marcado por sorrisos e uma reflexão interessante sobre os velhos mitos da "hora certa" , da "pessoa certa" , do tempo e de como tudo se conecta.

domingo, 7 de junho de 2009

Cai a Neve em Budapeste

"would kiss my eyes and lay me down
in silence easy to be born again?"
(Van Morrison , Astral Weeks)

cai a neve em Budapeste
revela ela uma cidade alva
pura feito o primeiro beijo
doce floco de neve , tua pele até então intocada
e do toque fez-se o riso e do riso fez-se o afeto
declarado mais que declarado em sorrisos abertos

eu seria capaz dos maiores neologismos
inventar pra descrever o sentimento agora desperto
mas sofro o risco de não ser original
outro poeta já cantou sua musa dessa maneira
com a ternura mais (pro)funda e cotidiana.
teadorointensamente , Teodora.

(odeio qualquer distância que me impeça
serenata , fuga noturna , samba pa ti
te raptar em plena madrugada e fugir por aí

a gente precisa ver o luar
deitados no chão ouvindo
a infinitude das estrelas)

moon river and me and you.
(em quaisquer todas semanas astrais
de hoje em diante , agora e todo o tempo).

domingo, 31 de maio de 2009

Faber Castell

"You've made my life so glamorous
You can't blame me for feeling amorous.
Oh! 'S wonderful 'S marvelous
That you should care for me..."
('S Wonderful , George & Ira Gershwin)

Eu percorria as estantes repletas de todos aqueles livros , títulos , palavras , nomes estranhos que nunca li. Lombadas coloridas como caixa de lápis de cor Faber Castell nova em folha , saudade da época do jardim de infância. De vez em quando eu abria em uma página qualquer de um livro qualquer e lia uma frase pra você. Um título ou um passo de dança , pra te enternecer e te fazer sorrir.

Até agora eu não entendo como é que eu passei cerca de seis meses fazendo você esperar. E esperando que o passado me trouxesse algo de novo , quando eu não via que o presente e o futuro estavam ali do meu lado. Verde , muito verde. Havia brilho em nossos olhos e estrelas no céu , mesmo que os seus não deixassem você vê-las.

Um cantinho , um violão , um velho disco amoroso de João Gilberto que os meus pais ouviam quando namoravam. Uma canção de Gershwin - e o seu avô adora Gerswhin , e a sua vó gosta de ouvir você dizer que o tempo devia ser terno assim sempre. E menos corrido , pra gente descansar ao pé de uma árvore e jogar o relógio pra lá.

À meia luz de meia-noite passada , eu te digo boa noite e percebo o quão triste é ter uma garota e ir dormir sozinho na sua cama. Você vai embora e eu fico sempre pensando em te escrever alguma coisa e nunca escrevo nada. Se esse texto por acaso chegar às tuas mãos , é porque eu já estou dormindo - na verdade , eu estou sonhando , desde aquela praça. E envolvido nesse teu abraço , eu não tô nem um pouco a fim de acordar.

domingo, 10 de maio de 2009

Tudo O Que Eu Sempre Sonhei

Tudo O Que Eu Sempre Sonhei - Pullovers - 2009

É tudo muito estranho quando um dia começa muito mal e acaba muito bem. Foi mais ou menos no espírito de tudo muito bem , pós show de amigos , restaurante de comida mexicana e um passeio de metrô delicioso e lindo que bateu aqui na tela do meu computador que o disco do Pullovers tinha saído. Finalmente , depois de quase três ou quatro anos de espera. Mas valeu a pena esperar.

Os Pullovers , sob a batuta de Luiz Venâncio e agora com a participação especialíssima de Habacuque Lima - de outra banda favorita da casa , o Ludov - , são seguidores da boa linha de rock paulistano sobre São Paulo , como já fizeram Ronnie Cord (Rua Augusta) , Mutantes (Baby) e o IRA! (Envelheço na Cidade , Tolices).

Ou o que dizer sobre coisas como "1932" , que revisita a Revolução de 32 para falar do amor de um paulista por uma carioca , "O amor verdadeiro não tem vista para o mar" ou "Todas as Canções são de Amor". Ou a beleza do cotidiano de "Marinês" , a encantadora flor da zona Leste? E o orgulho nerd de "Futebol de Óculos"? A pureza de "O que dará o Salgueiro?" , a crueza e a melancolia de "Marcelo ou Eu Traí o Rock" e da faixa-título.

Sério , assim , na boa. Não dá pra acreditar no que esses caras cantam. É lindo , é puro , é simples. Me lembra Teenage Fanclub , pela capacidade de melodias cativantes e de dizer o óbvio sem soar óbvio. Fácil fácil , até agora , o disco do ano.

Aqui entre nós... São Paulo é a melhor cidade do mundo. Eu nunca vou cansar de dizer isso.

sábado, 9 de maio de 2009

O Menino Lucca e O Monstro do Lago Ness

Não , não é meu. Me falta inspiração total , e numa hora dessas é que a gente recorre um bocado aos mestres. Esse aqui sempre foi um dos meus preferidos do Takeda , porque fala de sol , de crianças , e de David Bowie. We can be heroes , just for one day.

O menino Lucca apareceu assim de repente, no segundo dia de praia, enquanto os dois tentavam lembrar a letra de uma antiga canção de David Bowie, entre uma lata de cerveja e outra, como se essa fosse a única maneira de escapar de todo o axé em alto volume que balançavam as suas cadeiras de plástico. E, então, junto com os versos finais de Rebel, Rebel surge ao lado de João e Julia aquela criança de cinco, seis anos no máximo, com a pele morena de sol e um sorriso que convidava à conversa. Era inevitável. E inevitável foi.

Não, eles não sabiam muito sobre crianças, somente o básico, se é que algo assim existe, e, mesmo com tantos amigos com bebês por aí, você sabe como é a vida quando se está próximo demais dos trinta anos, os dois mal conversavam sobre filhos. Mas o menino Lucca falava como se não estivesse falando com um adulto e, cada vez que João e Julia fugiam de seus baldes cheios de areia, os três pareciam ter a mesma idade, três crianças e uma brincadeira apenas. E, sem querer, a brincadeira foi crescendo a cada dia de praia. Com mais um bebê de colo para cuidar, a mãe do menino Lucca se sentiu aliviada e simplesmente deixou que o seu filho passasse todos os dias na companhia de outro casal. Eles desenharam estrelas de cinco pontas na areia. Eles construiram castelos para se esconder do monstro do Lago Ness. Julia até tentou dizer que o Lago Ness era um lago e eles estavam no mar, mas João argumentou que era muito mais emocionante ser um monstro do Lago Ness do que um monstro do Mar de Florianópolis. Eles até ensinaram o menino Lucca a cantar David Bowie.

Quando o pequeno disse que teve pesadelos com o monstro do Lago Ness na outra noite, Julia não teve dúvidas. Disse para ele acordar, respirar fundo, enxugar as lágrimas e começar a cantarolar Ziggy Stardust. Ou vocês não sabiam que a única pessoa capaz de derrotar o monstro do Lago Ness é o incrível Ziggy Stardust? Foi assim, entre monstros, canções de David Bowie e muita areia no corpo que os dois passaram aquele verão.

É claro que foi difícil se despedir do menino Lucca. E nem preciso dizer que Julia caiu aos prantos quando ele cantou, em um inglês quase perfeito, Heroes. Na estrada, de volta para casa, enquanto colocava uma foto do menino Lucca no painel do carro, João pediu para que Julia o ensinasse a cantar melhor Ziggy Stardust.

– Por quê? Você também está sonhando com o monstro do Lago Ness? – perguntou ela.
– Eu? Não, não – respondeu ele sorrindo. – Mas preciso estar preparado para quando o nosso filho sonhar.

domingo, 26 de abril de 2009

Brastemp

A última parte da história do nosso querido motoboy. Pelo menos até que esse autor tenha inspiração pra novos personagens.

Eu já tinha armado tudo. Quinta-feira , sete horas , ainda não era um horário que o pessoal pedia muita pizza. O Geraldo , o pizzaiolo , ia me arranjar uma rúcula com tomate seco no capricho e um vinho tinto de Atibaia. Eu passava lá , fingia que tinha que levar um lero com o Zé pro gerente não desconfiar de nada e ia direto pra Cubatão , 134.

Depois de ouvir três vezes direto o Rocket to Russia - pra inspirar , é claro - eu saí de casa. Passei pela Nazaré , entrei na Gentil e subi a Santa Cruz. Encomenda recebida , tudo certo , repeti o mesmo caminho do último sábado todo confiante. Ao chegar no prédio o porteiro nem perguntou nada. Eu disse que esse cara era gente boa!

Toquei a campainha com o vinho numa mão e a pizza na outra. Sorri meu melhor sorriso quando ela abriu a porta - dava pra ouvir o som dos Stones rolando alto ali , brown sugar baby!

-Mas hoje eu não pedi pizza... muito menos um vinho!
-Eu sei que não. Eu trouxe pra nós.
-Então vai ser pra nós três.
-Nós três?
-É. Eu , você e o Marcão. Meu namorado que chegou de Maringá hoje.

Bati a porta na cara dela. Vadia , como assim "meu namorado de Maringá"? Nenhuma mulher que dá uma gorjeta de dois reais , usa uma camiseta dos Ramones e ainda pisca pra mim deveria me rejeitar. É contra a lei dos relacionamentos dos motoboys! Mas tudo bem... ela também não era aquela Brastemp.

sábado, 25 de abril de 2009

Pequenos Delitos Românticos

"Nos deparamos, numa esquina, num lugar comum.
E aí? Quais são seus planos?
Eu até que tenho vários.
Se me acompanhar, no caminho eu possso te contar. "
(Dois , Tiê)

A noite é fria e densa , e me lembra você. Talvez seja só esse cara que toca insistente , guitarras sujas num ritmo insistente. Eu fico só aqui procurando qualquer distração , abro a janela , novas melodias enquanto você não dá um sinal qualquer de vida. Um maluco me chama pruma conversa , fala sobre a canção de verão que você gostou - antes mesmo que eu pudesse te dizer sobre ela.

Praças , parques , terraços , avenidas. Canções de verão combinam com tudo isso. E você também. Éramos feito duas crianças tateando um mundo novo - você já me sabia , assim como eu também já te sabia , mas não daquele jeito inédito e inesperado. Tudo chegou tão rápido que nós mesmos nos estranhamos e não acreditamos naquilo tudo até agora.

Corre o tempo contra nós , um afago no teu rosto. Talvez isso tudo não passe de prosa bêbada tentando ser poesia pra te enaltecer enquanto você dorme - não nos meus braços , não hoje. Só sei que eu nunca sei o que te dizer quando você tem que dizer tchau. Eu sempre quero te causar um sorriso , um carinho ou coisa qualquer inesperada. Mas tenho medo de me trair depois ou me fazer sentimental demais e gerar teu desprezo. E aí eu não faço nada e fico só te olhando , do jeito mais terno que eu posso.

Vem comigo pela rua noite adentro , vento na cara , trompetes a soar , enfrentando as luzes dos carros , cometendo pequenos delitos românticos: me rouba um beijo , um abraço , faço uma chantagem pra ganhar um carinho. Ninguém tem nada a ver com isso , só nós dois na mesa de um café , sorrisos no canto da boca , disfarçando a felicidade que chega a ser óbvia. Na verdade , no duro mesmo? A vida é filme sim. Mas não me importa o cenário , a direção de arte , a fotografia ou a trilha sonora , pois eu só quero saber mesmo é da estrela principal. E o roteiro a gente deixa pra inventar depois.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Schweppes Citrus

A pedidos , a volta do nosso herói motoboy ex-estudante de História na PUC.

Aconteceu que aquele dia eu não perdi o emprego , nem no seguinte , nem na semana seguinte. Parece que a maré tava virando pro meu lado. É um sábado à noite , o dia mais corrido da semana lá na pizzaria. Portuguesa pra lá , com cebola , sem cebola , três Cocas com uma marguerita , duas atum e uma calabresa... rúcula com tomate seco e champignons e uma Schweppes Citrus pra entregar na rua Cubatão. Peraí , Schweppes Citrus?! Deve ser um puta dum viado que tá pedindo isso , eu pensei.

Beleza , vamo lá. O pior que pode acontecer é eu ganhar uma gorjeta legal , e gorjetas são sempre muito úteis. Ajudam a comprar gasolina , ou melhor: um vinil por dois reais no sebo da Cisplatina. Com algumas gorjetas de sábado já daria pra comprar o Psicoacústica do IRA! que eu namorava há algum tempo e o cara não fazia mais barato nem a pau.

Saio pela Loefgren a toda , entro na Afonso Celso pra depois cair ali na estação Vila Mariana. Passo a Domingos , farol vermelho , essa cidade que é um Velho Oeste no trânsito do sábado à noite , Vergueiro , entro na Estela pra virar pra Cubatão. Um prédio antigo , com portaria no hall e tal e coisa. É pro 134 , posso subir? Pode sim , sobe lá. Porteiro gente fina , me deixou até subir pelo social e não reclamou. Deve ter sido motoboy em outra vida.

Aperto a campainha. Tá tocando Bowie , a fase boa dançante , final dos anos 70 pro começo dos 80 , Let's Dance. Abre uma gata linda , morena , cabelos curtos , olhos verdes e uma camiseta larga dos Ramones.

- Bonita camiseta... Uma pizza de rúcula com tomate seco e champignons e uma Schweppes Citrus. Quarenta e oito reais. - Haha , obrigada. Tá aqui. (Uma nota de cinquenta) O troco é teu. - E deu uma piscadela pra mim.

Ah rapaz , hoje é meu dia de sorte! Na pior das hipóteses , vai dar pra comprar o Psicoacústica. Na melhor , quinta-feira é meu dia de folga mesmo e eu não tenho nenhum livro novo pra ler...

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Fragmento de um Romance Inédito #7

"Walking back to you is
The hardest thing that I can do
That I can do for you. For you"
(Just Like Honey , Jesus & Mary Chain)

Engraçado como o mundo dá voltas que nem mesmo a gente entende. Um professor meu já justificou que as fotos em papel valem muito mais que as digitais pelo prazer de estar arrumando o quarto e encontrar um velho álbum de fotos. Talvez seja por isso que eu ainda anote algumas coisas em bloquinhos. E foi revirando um deles , do final do ano passado , que eu encontrei isso daqui.

"Sarah. Ela era legal , realmente legal. Ela gostava de poesia , como eu. E ela gostava de bossa nova e de Chico e de Beatles , como eu. E ela usava All Stars , como eu. Qual era o problema , porra? Talvez ela fosse certinha demais , nerd demais pra mim , apesar do fato de eu também ser um nerd. O nerd moderno , antes que vocês comecem a pensar algo realmente tosco sobre mim. Talvez ela fosse muito branca , diria Sérgio. Mas é quase certo que eu pensava que ela não me daria o último sucesso de Marvin Gaye antes de morrer. Sexual healing , babe. Ela não era rock'n roll.".

Cegueira. O que eu não vi foi que eu não precisava só do rock'n roll e de um sucesso do soul pra ser feliz. Como eu mesmo disse pra ela semana passada: minha música perfeita não precisava de guitarras fritando ou grandes solos de bateria. Eu era muito mais chegado em um violãozinho , uma guitarra com slide (ao estilo GeorgeHarrisoniano) e uma letra esperta. Tem certas coisas que a gente só entende depois de um tempo. E nunca sabe ao certo se vai dar pra concertar.

(Mas um novo arranjo pode mudar tudo numa canção).

domingo, 12 de abril de 2009

Uma frase

Apenas uma citação pra preencher espaço ou pra pensar ou pra encher lingüiça ou pra dizer que há alguns dias nada sai de decente dessa cachola.

"Nunca me ensinaram a arte da solidão, tive de aprendê-la sozinho. Ela se tornou tão necessária para mim quanto Beatles, tanto quanto beijos na nuca e carinho".
(Intimidade, Hanif Kureishi)

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Série Luxo Azul

"já procurei no dicionário pra tu ver que eu não sou um cara ruim"
(malevolosidade , superguidis)

Mais repetitiva que a minha vida só os jornais que o vizinho recebe e ficam jogados no capacho toda manhã. Eu sempre leio a manchete antes de pegar o elevador , e algumas pequenas chamadas quando a senhora gorda do 32 tá dentro dele , e nada parece mudar. O Obama aprova mais um pacote pra economia toda vez que eu sou despedido de um emprego novo. O Dado Dolabela ou o Ricardo Mansur ou qualquer outro desses aparece de namorada nova toda vez que eu tomo um fora. Atraso o aluguel e estoura outro escândalo de corrupção no Brasil.

É uma coisa linda. Gasto meus últimos trocados em livros e vinis. De que me importa não ter dois reais pra comprar um pacote de um quilo de arroz , se eu achar um livro qualquer da Brasiliense dos anos 80? - ainda mais se for uma das primeiras edições. Às vezes eu abro a geladeira - uma Série Luxo azul que tá mais pra quentadeira - só pelo prazer de vê-la vazia e saber que eu não tenho um puto no bolso , mas uma porção de livros na estante.

E olha que eu até sou um cara de boa estirpe. Segundo grau completo , um curso de História na PUC pela metade , diversos cursos de três meses em SESIs , SENAIs e coisas do tipo , não muito bonito mas simpático , sabe cozinhar , mora sozinho num apartamento alugado que , se não é o palácio de Buckingham , também não é a geral do Curintia , um vocabulário dantesco e ajuda velhinhas a atravessar a rua. Não sou um cara ruim. Só um pouco mal-sucedido , mas até aí... de boas intenções até o Bono Vox tá cheio.

E o Bono Vox é amigo do Obama , que tá pra soltar mais um pacote. Puta merda , lá vou eu perder o emprego de motoboy da pizzaria da esquina de novo.

domingo, 29 de março de 2009

Statement of a Previously Unreleased Romance #6

"I know what I like , and I like what I know"
(I Know What I Like (In Your Wardrobe) , Genesis)

I barely know you , but the so few that I know makes me like you so much. Life is just like a movie that is being filmed and the actors doesn't know the script. They just sign with the company trusting on the team and get the responsibility to star the movie. Would you like to be my co-star?

The same old clichè , the same old scenario. Platonic love. Just because you do remind me something I don't know. Maybe I'm just a drama king - yes , I can daydream so highly that queen is few for me - but I'm used not to regret or have a sorrow when I say this kind of things.

I remember every detail. The teachers wore yellow , you wore blue. The second day , pink. And then light purple , and a mix of pastel colors. After three or four days , nothing happened. I still being centered on myself , not able to talk , laugh , look or smile in a way to captivate you. So , who I am? Nothing more than a strange , bearded , long-nailed guy , who just wear T-shirts of bands and look and look and look and look to you.

I just wanna a bit part in your life.

quinta-feira, 26 de março de 2009

El Camino

Eu nunca fui muito bom com despedidas, eu confesso. Era o que eu te dizia quando eu botei a última mala no bagageiro da minha velha picape vermelha à diesel e te disse adeus pela primeira vez naquele verão californiano. Nós bebíamos num bar com um nome alegre , nós nos apaixonamos e Santa Mônica nunca mais seria a mesma. Mas eu era um gringo , um chicano em terra estrangeira , Porto Alegre me chamava de volta.

Depois , na praia mais longa do mundo , você é que me voltava à mente , em corpo e alma. E naquela imensidão de areia eu entendi porque Brian Wilson queria que todas as garotas fossem garotas da Califórnia. Mesmo que você também tivesse vindo de Nova York.

E hoje , eu me arrependo. A água quase marrom do Guaíba é ainda mais marrom e a Tristeza virou um martírio. Meu azar foi todo pelo Cassino. Mandei a noiva gaúcha à merda , garota eu vou pra Califórnia virar artista de desenho animado.

Nunca mais te achei. As únicas pessoas que te conheciam não lembravam teu nome. Nem teu rosto , o que é uma puta duma mentira. Aonde quer que você esteja , lembre-se dos meus riffs de guitarra e da minha pandeirola , que você tocava feito uma criança descobrindo a magia da música. So , I'm stuck , my pretty brooklyn girl. E mesmo que eu tenha dito adeus , I still keep you in mind.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Trompetes

Feito você , eu também estou estacionado
Mas você tem chances de sair por aí

Eu mesmo não me suporto agora.
Essa barba , esse tênis rasgado
E você cheirando a patchouli
Recordação olfativa da memória sentimental demais gigante que eu tenho.

Jerry Maguire em plena auto-estrada.

E é por isso que eu flerto
Com a queda todo dia.
Não é pelo contato estatelado
Com o chão do asfalto.
Só pelo gosto de sentir o corpo
A dez metros por segundo em aceleração.

No hope when my hope it's you.
É o que me faz te afogar só pra te salvar depois.

Essa dicotomia entre cerebrum e anima.
"Estranha essa necessidad de ser carne e música".

sábado, 21 de março de 2009

O Idiota

"Antônio, o garçon, me serviu, como de costume o sanduíche de salame com queijo provolone no pão francês, chopp gelado e o café expresso, curto e amargo, sem açúcar"
(Tony Bellotto , Bellini e a Esfinge)


O dia tinha começado cedo demais pra mim. E o pior: atrasado , pulei o café da manhã - um delicioso pedaço de bolo da Dona Zefa , minha vizinha - e tomei uma aspirina. O efeito era mais psicológico do que realmente médico: há tempos as minhas dores de cabeça não cessavam com aspirina.

Esvaziei o copo de café gelado e velho da garrafa térmica - o microondas tinha quebrado há tempos e eu sem um puto no bolso pra trocar o gás do fogão - e saí andando pra rua , torcendo para que o Pompéia ainda não tivesse passado. Por sorte , a única do dia , aliás , ele estava no ponto , prestes a sair , portas fechadas , farol vermelho. Bati na porta feito um condenado e o motorista abriu. Lógico , ao contrário de sempre , ele tava lotado. Parece que todas as velhinhas do bairro tinham resolvido fazer uma excursão pra rua Clélia às seis e pouco da manhã.

Justo hoje , amaldiçoei , justo hoje , que eu ia vê-la depois de três meses , eu ia chegar todo suado e amarrotado? Só de raiva , botei o velho Iguana pra tocar. Na época que o Bowie produzia o cara , ele tava mais na sarjeta que cachorro pulguento. Melhor que eu , provavelmente. Ao menos ele tinha cocaína e mulheres a qualquer hora e não morava num quarto-sala-cozinhainhainha alugado com três meses de atraso no Ipiranga. Éramos dois excitados pela vida , mas só eu era um passageiro do glorioso 478P-31.

Depois de carinhosamente me acomodar entre um armário Marabraz de nogueira e outro de marfim , os dois cheirando a suor , me pus a marcar o tempo das canções... here comes success , era sempre o que eu pensava quanto tinha de aturar aquele tipo de coisa. I couldn't escape this feeling , my china girl. A versão do Bowie parece um toque de celular perto da do Iggy. Por falar em celular , o meu estava tocando. Pedi a Deus pra que não tivesse de esbarrar nos maçanetes dos armários. Atendi o celular. Ela.

- Oi... Promete que não vai ficar bravo?
- Fala vai , eu já tô acostumado...
- Eu perdi a hora. (Bocejo). Desculpa... depois a gente se fala.
- Tá , tá , vai pra escola , isso é importante. Depois a gente conversa.

Oh sweet sixteen. Tá , às vezes não tão sweet quando eu desejaria , sixteen mais madura que eu. Bom , pelo menos agora eu podia ficar amarrotado em paz. A barriga urrava por comida e o ônibus não andava. O trânsito de uma sexta-feira véspera de carnaval prolongado podia ser meio punk , mas às seis e meia da manhã? Finalmente , a Paulista. Desci no primeiro ponto que dava pra descer - ou seja , uns três depois do meu , dada a lotação do ônibus - , já que eu tava meio cansado de contrariar as leis da Física. Vale sempre lembrar: em um ônibus qualquer cabem até três corpos no mesmo lugar. Num Cidade Tiradentes , cinco.

Assim que eu desci , entrei no primeiro boteco disponível e pedi dois pão com manteiga na chapa. A dor de cabeça continuava a pentelhar. Os pão com manteiga vieram gordurosos e sem sal. Foda-se , ao menos era comida e tão barato que era até troco pra mendigo. Passei na primeira banca de jornal e comprei um Notícias Populares.

O NP virou capa de chuva , deixando escorrer sangue e água de suas páginas. Cheguei na faculdade todo ensopado. PUTAMERDA! Produção em massa de cérebros , irmã meia-noite. Mas hoje à noite vai estar tudo certo , e eu escolhi viver. E não uso um All Star branco.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Escorre

"Lust for life , i'm lust for life"
(Lust for Life , Bowie & Pop)

A vida escorre aos poucos.
E vem em porções pequenas.
Os dias são longos,
Os anos são curtos.

Minhas mãos já não conseguem agarrar.
É natural que se escreva sobre alguém
quando se está apaixonado por ele.
And so , i'm LUST FOR LIFE.
(e tem gente que ainda não consegue gostar do Plant).

Mas tudo bem , estou de bicicleta
A cento e vinte por hora
Meus amigos me conhecem bem
Criatividade cem , eficiência zero.
A vida escorre aos poucos.

Mas rápido.

domingo, 15 de março de 2009

Lavou a Louça

"Quero terminar com ela uma conversa sobre umbigos e besouros"
(Madona , Rubem Fonseca , in A Coleira do Cão)


A semana tinha sido do cacete. Todo dia saindo às cinco e meia da manhã , chegando só às oito em casa. E ainda tinha uma gripe lascada. Vida de solteiro é uma merda , disse ele a um amigo na quinta à noite. Cada minuto que passa as atenções mudam de um ponto pro outro , o que foi pro chão tá no céu e o que tá no inferno volta pro purgatório. O último amor platônico tinha virado pro mar , decidiu voltar e agora ele tentava afogar um gato. A árabe tinha um namorado , putaquepariu , mas ela era tão cool. E a minêra aparentemente ingênua gostava de Led Zeppelin. Pessoas são estranhas e nos surpreendem. Mas ultimamente quem era normal é que surpreendia.

Mas não era nisso que ele pensava quando saiu esse sábado. Pensou que fazia quase um ano que não tinha ninguém novo na sua vida. Tomou um banho , penteou o cabelo recém-cortado que ele ainda não havia se acostumado , botou uma camisa pólo preta , calça jeans , o velho All Star e foi pra avenida Central. Era aniversário de uma velha amiga , num barzinho , a velha coisa que o irritava pra cacete , é festa , então paga! Mas era uma chance , ela tinha mudado de colégio e conhecido novas pessoas. A gente nunca sabe o que nos espera , num sábado à noite.

Passou na casa do Zé , parceiro de sempre , dez anos de amizade naquela semana. Caralho , dez anos passam rápido maluco! Ele ainda lembrava quando chegou na escola como um moleque indefeso de óculos gigantes querendo puxar conversa sobre Fórmula 1. Poisé. O pai do Zé mandou ele passar lá depois pruma cerveja. Ele não bebia. Pegaram um ônibus e saíram andando. Na descida do ônibus , o Juca liga. Putz , o Juca , um cara que tinha estudado com eles até a quinta série. Corinthiano maloqueiro e sofredor , rico pra cacete , pegador. Fazia todo final de semana o circuito Central-Bananeiras. Bebia e fumava. Talvez já tivesse até cheirado.

O aniversário da amiga tava marcado pras oito. Era nove horas , tava tranquilo. Barzinho sempre dura até uma , duas da manhã fácil. Andaram pra lá e pra cá na Central tentando achar alguém. O Juca se cansou , fumou um cigarro e deixou eles na esquina do Habib's. Dez horas. Vamos entrar no barzinho , Zé? Vamos. Chegando lá , os amigos do colégio do Zé na porta. Um bando de babacas. Ué , onde cês tavam? Achei que vocês não vinham mais. A gente tá indo embora já. Ah mano , festinha miada. Vamos voltar pronde o Juca tá? Putz , é ele ligando. O Juca disse que encontrou os caras do prédio do Zé , o Marcão e o Renan. Eles tão de carro , vão passar aqui. Ah , sei lá , Zé , vamos entrar? Entraram. A entrada era cinco conto. Subiram. A amiga estava saindo já. A gente tá indo pro Habib's. Mas vocês só chegaram agora? A gente tava dando uma volta... sacumé. Deixa que eu pago pra vocês. Não , não , a gente não vai pagar , Taís. Acho injusto.

Chega no balcão e grita: OLHA, EU TÔ AQUI SÓ HÁ CINCO MINUTOS E VOU EMBORA , NÃO VOU PAGAR ESSA MERDA. Não é assim que funciona , eu sei que você tá só há cinco minutos aqui. FODA-SE. Não paga. FUI. O Zé ainda ficou lá pra conversar com o cara , se pá passar um xaveco. Saem do barzinho , o Marcão e o Renan no carro. E aí , que cês tão fazendo? Ah , a gente veio aqui , mas eles tão indo embora. A gente só precisa estar aqui à uma da manhã. O nosso herói , ele pensa. Essa vai ser mais uma noite perdida , meu deus.

Mas como disse alguém , ou você vive ou você escreve. Dessa vez ele decidiu viver. Entrar no carro , no banco de trás. Toca pra Bananeiras , Marcão. Um carro a 60 km/h já é capaz de fazer estragos. Principalmente quando se está no banco de trás , vento na cara e techno "oieusoubaiano , beijomeliga" tocando ensurdecedoramente alto. Os moleques berravam por cima da música já alto , um grave que fazia ele pular no banco de trás. BOTATECHNO , NÃO , BOTAFUNK. CAÇAAQUELASMINASNOPALIOLARANJA. OPALIOLARANJA , ALINAFRENTE , TOCANDOFUNK! VOCÊACHAMESMOQUEAQUELASMINASTÃOOUVINDOFUNK? BOTAUMPSYEEMPARELHACOMELAS. FUNKDELADRÃOVELHO. AH, ELASPASSARAMOFAROL. PUTA. ACELERAESSAPORRA , ACELERA. AHMARCÃO , CÊÉFRACO. EUCHEGOANOVENTANESSALADEIRAFÁCILCOMOGOL. VAISUCODECOCOAÍ? ESSAPORRATÁCHEIADEPORRA. CÊSVÃOFICARNOHABIB'SMESMO? VAMO. PARAOCARROAÍMARCÃO, DEIXAAGENTESAIR.

Ufa. Dez e meia maluco , disse o Zé. Tá a fim de ir na Blockbuster? Brincadeira , Zé. Nosso cavaleiro das trevas continuava sem sorte. E sem achar a amiga no Habib's. Nem no Ragazzo , que ficava do lado. Quer dizer , olha ela lá , na porta. Ai que bom que vocês vieram. Desculpa , tá tudo muito miado hoje e eu tô desmarcando tudo. Fica tranquila , Taís. A gente nem precisou pagar , fomos pra Bananeiras e voltamos em meia hora. De carro , claro. Ai , eu odeio esse sapato e essa meia arrastão. Você quer que a gente te carregue? Feito uma princesa , a amiga foi carregada de cadeirinha. Quase uma liteira. Mas finalmente eles chegaram no café.

Ah , o café. Um sofá. Chá com limão e água com gás. Só água com gás é... Não , essa era outra noite estranha. E nada de nenhuma guria. O Belchior tentava a única decente. E ele era melhor amigo do Zé. Ah , desisto. Decidiu aproveitar o ambiente e curtir a noite. Pagou a conta , deu um último beijo na mão de sua amiga. Parabéns , minha querida. Foi pra fora. A única decente tava sozinha e jogou um olhar. Até podia tentar. Mas um beijo só não seria stoniano o suficiente pra ele.

Quente e frio. No carro do Zé. Do pai do Zé , digo. Boa noite , brigado pela carona. Seu pai dormia , as luzes apagadas na janela. Chegou em casa e lavou a louça. Puta merda.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Coming Soon

Sim , eu ainda tenho vida.

Eu espero. Pelo menos o meu HP ainda tá no verdinho. Pena que eu ainda tô no começo da caverna do Moltres e ainda falta MUUUUUUITO pra chegar no Plateau Indigo. (referência nerd mode off)

Em breve , eu prometo: alguma coisa ficcional sobre a minha vida , algum tipo de desabafo e um artigo sobre a Lasciva Lula , procurando cavoucar algo mais além de simples acordes e gritarias.

Cenas dos próximos capítulos em breve.

(Até porque vida de solteiro é uma merda: montanha-russa do caralho , mil vais e vens pra chegar no final com uma sensação de cansaço - principalmente se a montanha-russa for velha).

"Aquele abraço pra quem fica" (Chico)

segunda-feira, 9 de março de 2009

Décimo Quinto Passo

"How come end up where I started?"
(15 Step , Radiohead)

Diversas chicotadas soam no ar e uma luz se acende. Meu corpo dói , inflamado. O sangue espirra pelo chão do quintal e de repente , mergulham-me numa piscina e me dão choques elétricos. Cold turkey , my fella. Desmaio.

Acordo. Uma sala , uma cama , uma enfermeira loira peituda , à maneira clássica dos filmes pornográficos , me acorda e me cura. Mas as chicotadas persistem , agora na minha cabeça. Décimo quinto passo. Quando eu percebo , são milhares de enfermeiras , cantando pela minha recuperação. Feel me see me heal me kiss me.

Um homem de voz grave se aproxima , crianças gritam de alegria no jardim. Chicotadas e chicotadas , um ganido de dor , uma voz aguda. Totalmente descerebrado. Beat box. Theremin. Ruídos e mais ruídos. Desmaio. Morte.

...

- João , João , acorda!
- Mãe?- Tá tudo bem contigo , meu filho? Você estava se debatendo na cama...
- Tá , tá tudo bem sim. Agora tira o disco do Radiohead do cd player , põe uma coisa pra eu dormir em paz , pode ser? Aquele novo do Sigur Rós...

sexta-feira, 6 de março de 2009

A Seleção de 82

"A derrota de 50 e a campanha de 70 pertem totalmente seu sentido"
(Nando Reis , "Meu Mundo Ficaria Completo (Com Você)").

Você é como a seleção de 82 , que no papel pode até ser melhor que a de 70. Mas que não deu certo. Você tinha a graça do futebol moleque do Chulapa , a segurança do que queria como a defesa de Oscar e Luisinho , a força de me conquistar com apenas um olhar como o chute do Éder. A beleza de uma jogada do Zico , a inteligência do Doutor Sócrates e a calma do mestre Telê.

Mas veja bem , meu bem. Você e eu começamos capengando , que nem naquele jogo contra a Venezuela nas Eliminatórias - um gol chorado de pênalti do Zico no finzinho. Depois foi só alegria por ali , um baile latino em cima da Bolívia , um beijo mais doce ao som do Santana.

A primeira briga foi como o jogo com a União Soviética: difícil , mas no fim tudo acabou bem. E ficou tudo tão bem que a gente deslanchou e eu te pedi em namoro no último jogo da primeira fase , contra a Nova Zelândia. Não tinha jeito de não dar errado , mas deu. Você ficou assustada ou , envolvida pelo canto do povo nas ruas com mais um triunfo canarinho , acabou fugindo e não quis me dar uma resposta.

Liguei , liguei , liguei e nada de você atender. Dei pra beber com os amigos no dia do jogo contra a Argentina , achando que íamos perder: Diego Maradona e ausência do meu melhor talismã. Mas no calor da partida nós ganhamos e naquela noite eu atendi um telefonema seu pedindo desculpas. Combinamos um encontro praquele fatídico dia 5 , na hora do jogo. Claro que como bom brasileiro eu protestei , mas você insistiu que era importante.

A imprensa dava a vitória como certa. Até o próprio técnico da Itália disse que enfrentava os futuros campeões. Levei meu radinho de pilha no bolso , já que você sempre se atrasava. Quando você chegou , o jogo estava em 1 a 1. Me disse que tinha encontrado um italiano nas ruas da cidade entre o jogo da Escócia e da Nova Zelândia. E tinha se apaixonado por ele , se jogado nos braços dele , più bello ragazzo tifoso della Squadra Azzurra. Enquanto isso , diziam os garçons , o maldito do Paolo Rossi enfiava um último gol aos 74 minutos , golpe de misericórdia.

Joguei a cadeira pro alto , saí andando pra nunca mais te ver , sua bambina irresponsabile, e nunca mais comi pizza nem espaguete na minha vida.

terça-feira, 3 de março de 2009

Joaquin Rodrigo

Não , eu não sei nada sobre a sua vida.
Mas ele é um gênio.

O Concierto Aranjuez
Não é assim uma Nona de Beethoven
Ou uma Jesus Alegria dos Homens
Mas é uma das coisas mais lindas
Que o ser humano já criou
Em termos de sons.

Comparável apenas ao choro do filho
O estalar do beijo da mulher amada
O som de chuva caindo num dia de verão
E a voz dos amigos na mesa de um bar

(O abrir da Coca-Cola não vale.
Até porque Brian Wilson já o usou).

domingo, 1 de março de 2009

Fragmento de um Romance Inédito #5

"Parei pra escrever os meus pensamentos
E olha só pra você ver o que eu escrevi"
(SNJ , Pensamentos)

Ana Rosa , Luz , Vila Mariana. Toda segunda e quarta eu fazia esse trajeto , levando a Sofia pra pegar o trem. Eram momentos mágicos aqueles , a gente não fazia nada além de conversar abraçados , rindo e se beijando. Eu a levantava no colo , pegávamos o metrô , eu esperava o trem dela chegar , sentido Guaianazes , eu já nem me lembro mais.

E voltava pro meu inglês , ouvindo um velho rap com rimas que são até bem constrangedoras , uma cantora que puxava o R , outro que parece não falar em português , uma base de poucas notas num teclado , encostado na janela , sonhando acordado.

Hoje eu não faço mais inglês. Não tenho mais a Sofia. Não faço mais esse trajeto. Não pego mais trem, a não ser quando eu vou pra casa do Zé e preciso chegar cedo em casa. Mas ainda tenho o bom e velho rap inocente , pensamentos que voam como vento , se livrar e não lembrar de maus momentos.

Porque , diz a letra , tudo que vai volta , sorrindo com a vitória , chorando na derrota , penso , relembro , dessa vez talvez eu aprenda. Nada mais , nada menos , pensamentos.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Carlos, Erasmo... - Erasmo Carlos

Erasmo Carlos - Carlos, Erasmo... (1971)

Tá , você já deve estar cansado de saber que o Erasmo Carlos é "O Tremendão", o amigo de fé irmão camarada do nosso Rei Roberto. Que todas as músicas que o Roberto escreveu foi com ele e coisas desse tipo, e que o Erasmo tinha que manter a sua fama de mau na época da Jovem Guarda. O que você não deve saber é que nos anos 70, enquanto seu camarada inventava de fazer soul brazuca e depois música religiosa pra empregadas e gordinhas, o nosso bom e velho Erasmo aqui teve sua fase hippie alternativo psicodelia maravilha.

É uma fase que teve início com o disco anterior, "Erasmo Carlos & Os Tremendões", onde ele cantava pérolas como "Coqueiro Verde", "Sentado à Beira do Caminho" e regravava belezuras como "Saudosismo" (Caetano), "Teletema" (Antonio Adolfo/Tibério Gaspar) e pasmem... "Aquarela do Brasil" (Ary Barroso).

Mas é nesse disco aqui, com capa com jeitão de caminhoneiro Carga Pesada, que ele finalmente mete o pé na porta e acaba cometendo um dos melhores discos feitos no Brasil. Pra começar, um samba-rock classudo, "De Noite na Cama" (depois regravado por Marisa Monte), do Caetano. Passa à balada "Masculino, Feminino", um lindo dueto com Marisa Fossa que marca bem a sonoridade "maravilha" da época, com ecos de Burt Bacharach , mas também da psicodelia do Jefferson Airplane e do Mamas & Papas.

Essa mesma sonoridade aparece também na romântica "Ciça , Cecília" (que emula os primeiros trabalhos de Tim Maia ,e portanto ,também a Motown), "Em Busca das Canções Perdidas Nº2" e na gospel (olha o Robertão aí gente) "Sodoma e Gomorra". Erasmo mostra seu lado samba-rock também em "26 Anos de Vida Normal" (dos Irmãos Valle) e em "Agora Ninguém Chora Mais", de Jorge Ben.

O lado hippie responde por pérolas como "É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo", "Dois Animais na Selva Suja da Rua", do uruguaio Taiguara, "Mundo Deserto" - um soul gritado à maneira de "Respect" que depois seria interpretado por Elis Regina no LP "Ela" - e na maconhada "Maria Joana", com versos como "na vida tudo passa/o amor vem como nuvem de fumaça".

Depois disso , Erasmo ainda faria outros discos bem semelhantes e igualmente interessantes nos anos 70 , como "Sonhos & Memórias", "1990 - Projeto Salva Terra" e "A Banda dos Contentes". Nos anos 80 , volta com força total no disco "Mulher" , com "Minha Superstar", "Pega na Mentira" e a faixa-título. E até hoje participa de revivals da Jovem Guarda...

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Sonhar Não Custa Nada

Um conto de carnaval pra quarta-feira de cinzas. Ah, Mel , obrigado pela info! :D (detalhe bizarro: o texto foi parido ao som do Kid A do Radiohead. Mais carnavalesco impossível!)

"Delírio sensual , arco-íris de prazer
Amor , eu vou te anoitecer"
(Sonhar Não Custa Nada , Mocidade Independente de Padre Miguel)

Quarta-feira de cinzas à tarde não significa fim de carnaval pra mim. É o momento mais empolgante depois do desfile da minha querida Mocidade. A apuração das notas. Não sei , não me pergunte porque eu gosto tanto daquilo. Eu nem gosto de números , só mato aula de Matemática, - pra ficar batucando lá na quadra e observar as passistas ensaiando , que fique bem claro - mas eu adoro a apuração.

Não sei se vocês sabem , mas tem muita aula de Matemática. E tem uma passista , aprendiz de porta-bandeira que é a pura perfeição de Joãosinho Trinta Nosso Senhor na Terra. (Joãosinho Trinta é O cara. Desde molequinho pé no chão com "Sonhar com Rei Dá Leão" até uns anos atrás com o Ratos e Urubus , eu presto reverências a ele). Sério , aquela mulata faz meu coração palpitar feito a nossa bateria nota 10.

Mas voltando à apuração. Esse ano a gente veio bem. Belo desfile , um samba lindo, "Sonhar Não Custa Nada" , a gente tá no páreo. E o que eu mais quero é ver aquele sorriso na cara da minha princesa , minha Dona Zica se eu fosse Cartola. A comunidade toda na quadra , quatro horas da tarde , televisão ligada na Globo. Expectativa total.

À medida que as notas vão sendo anunciadas , vou vendo o medo aparecer. A minha musa aperta com mais força a bandeira da escola , rói as unhas pintadas de branco e verde , chora , grita , se desespera. Eu sambo pra não chorar , foi um desfile genial do Renato.

Ao fim da transmissão , não tem mais jeito. Estácio campeã , e a minha Mocidade vice. Não há nada a fazer senão chorar. Epa epa epa , peraí , mas é uma história de carnaval , então não tem que ser triste. Vamos achar logo esse final feliz. Esquece esse "senão chorar". Rebobina a fita , ou melhor: volta a escola pro setor 1.

Ela chora. No espírito da comunidade , eu acabo decidindo ir falar com ela.
- Não chora não , que ano que vem tem mais. E sonhar não custa nada.
- É , eu sei. Você é o André né?
- Peraí , como é que você sabe o meu nome?
- E você acha que eu não reparei nos teus olhares em todos os ensaios? Além disso , você tem cara de quem tem samba no pé.
- Eu?
- É. E eu preciso de um par pra poder ensaiar. Quer ser meu mestre-sala?

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Dos Braços de Morfeu

"Keep me from these sleepless nights".
(Dearest , Buddy Holly)

Ela parece estar dormindo , e talvez até esteja mesmo , nesse sofá estranho que ocupa a casa desse meu amigo cheio da grana que dá essas festas com pessoas modernas e alternativas. E eu e ela não pertencemos a esse mundo, nós apenas estamos aqui por uma coincidência. Ela, por ter o sorriso mais bonito do mundo. Eu, por alguma estranha maneira , convenci as pessoas que sou um intelectual e não essa farsa debaixo de barba.

Enquanto essa música estranha toca , um barulho ensurdecedor no jardim , ela mantém seus olhos fechados. Certa vez eu li num livro , que de todas as maneiras que a mulher amada pode ser bela , a mais bela delas é quando ela dorme. E o pior é que é verdade. Tão quieta , ela deve estar sonhando com alguma coisa , campos cheios de flores , fadinhas , elfos ou coisas que permeiam sonhos de mulheres-meninas.

E eu com esse vinho do Porto, pedindo ao destino que mande-a dos braços de Morfeu pros meus.

Ela acorda.

- Bom dia?!
- Bom dia... você tava sonhando?
- É , acho que sim...
- Provavelmente com algum príncipe encantado. Ou coisa parecida.
- Até era. Mas não era um príncipe encantado clássico , com cavalo branco e carruagem.
- É , os contos de fada andam meio fora de moda. Mas como ele era então?
- Tá vendo aquele espelho ali?
- Tô.
- Então...

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Aqui ou em Paris

Pequeno devaneio envolvendo amores platônicos. Qualquer semelhança ou inspiração em Juliana Hatfield não é mera coincidência.

Não , não me recuse tua boca
Minha última morada
Antes do meu encontro contra o muro
Nem tua língua
Minha favorita rival
Nem teu beijo.

Um beijo que tivesse um gosto
De Coca-Cola e bolo de chocolate.
Como o último tango que dançamos
Aqui.
Ou em Paris.

Mirage.
Ilusão.
Não sei se abro ou fecho os olhos
(Uma voz em espanhol: Abre los ojos , abre los ojos)
Você sempre aparece.

Azul , rosa , lilás , cinza , verde , branco , tons pastéis.
Não importa a cor.

"Won't you please materialize?"

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Grace - Jeff Buckley

Jeff Buckley - Grace (1994)

Primeiro , algo importante sobre este disco:você nunca viu ou nunca verá tão parecido com ele. Pode buscar similaridades mil com outros artistas (que é algo que farei nas próximas linhas) , mas nenhum deles uniu tais atributos em um álbum só.

Segundo: mas quem é esse tal de Jeff Buckley? Filho de pai ausente e genial (Tim Buckley , trovador maldito dos anos 60 que misturou rock , folk e jazz), criado por uma mãe severa e um padastro que foi bem legal com ele , dando-o discos do Led Zeppelin. Dono de uma voz potentíssima , com enorme extensão vocal de cinco oitavas (para os leigos: a normal para os humanos é de apenas duas) , usa-a com toda a propriedade. Estudou guitarra insanamente na adolescência , e de certa maneira , por esses dois últimos fatos , encarnou vários mitos em seu próprio corpo.

Buckley foi Nina Simone ao usar sua voz com tal doçura e sofreguidão em suas canções que até chega a incomodar (e dela fez um cover , "Lilac Wine"). Foi Page & Plant em "Eternal Life", facada guitarrística em corações solitários e tempestuosos. Foi Van Morrison ao usar símbolos e metáforas aliados a uma riqueza melódica e a uma voz inconfundível. Foi Cohen e foi Morrissey em uma melancolia poética , quase niilista. Foi Cobain ao explorar o ruído e a dissonância e ao morrer de forma trágica deixando uma obra curta pra trás.
.
Mas também foi ele próprio ao unir tais caracteres. Seus arranjos soam ao mesmo tempo simples , mas refinados e intrincados. É um filho bastardo do rock alternativo dos anos 90, do folk sessentista e do jazz. Começa underground tocando em botecos (como podemos ver no EP "Live at Sin-è") e conquista fãs como Bono Vox e Paul McCartney. Termina sua vida de maneira tragicômica , morrendo afogado no rio Mississippi ao som de "Whole Lotta Love".
.
Assume-se um amante bêbedo em "Lilac Wine" , pede desculpas e sente-se miserável em "Last Goodbye" , declara que o amor não tem fim na pungente "Lover , You Should've Come Over", mostra-se sobre o efeito de drogas em "Mojo Pin" e busca a redenção na desperança , como na irretocável regravação da "Hallelujah" , de Cohen. Nota: o próprio Cohen declarou isso.

"Grace" , de 94 , é seu único disco em vida. Não digo que foi suficiente , pois um grande artista sempre terá algo a oferecer - desde obras-primas tardias , como o SMiLe de Brian Wilson , até um espetáculo da decadência , à maneira de Michael Jackson , por exemplo. Mas definitivamente colocou o nome de Buckley entre os gênios de uma época.

"Jeff Buckley é uma gota cristalina num oceano de ruídos" (Bono Vox)

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Hey Babe

"Agora todas as canções de amor fazem sentido"
(O Banana , Superguidis)

Ela é minha ex , e canta numa banda. Nós ainda não resolvemos muito bem esse lance de ex , às vezes rola um comeback , que sempre acaba em sexo , discussões e os cacos de algum vaso onde ela antes pusera as rosas que eu lhe dera no começo da noite. E por alguma estranha coincidência , hoje é um dia da fase "vamos ser só amigos".

É noite e muita fumaça dos cigarros alheios chega aos meus pulmões. Malditos inferninhos da rua Augusta , bandas iniciantes , meninas que berram letras "eu não ligo pra minha reputação" com quatro bicordes numa base 4/4 berrada. Mas ela não.

Sua voz é como a de um anjo , e suas músicas , apesar de dissonantes soarem , são maravilhosamente melódicas. Letras sobre um cara que a deixou e espalhou seus segredos para os amigos , sobre objetos atirados , flores despedaçadas , novos jeitos de levar a vida sem ele. Ela é linda , e balança seu corpo de uma maneira malemolente durante as músicas , de modo que seu cabelo ruivo e curto se envolve em um ritmo envolvente também. O resto da banda é altamente ignorável , três caras que são ótimos músicos , mas totalmente inexpressivos como compositores ou personalidades.

Enquanto eu mexo com o dedo o gelo nesse meu copo de uísque , escondido no meu blazer , percebo que ela está cantando pra mim. E de seus olhos saem lágrimas , que ela esconde com sorrisos de alegria por cantar ali. E eu continuo a mexer o gelo , até que ele não mais exista. É quando eu me dou conta de que o show acabou.

Saio em busca de uma floricultura pra depois voltar ao bar. Sim , essa noite eu pretendo um comeback. Mas dessa vez as rosas permanecerão lá , intocadas , até o próximo final de semana , sem vasos quebrados ou lágrimas.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Torradas

"You've been reading some old letters
You smile and think how much you've changed,."
(This is the Day , The The)

Acordar sozinho nas manhãs de sábado sempre foi algo que eu gostei muito. Meu pai lá embaixo na garagem com suas serras e lixadeiras não me incomodava , nem minha mãe que saía pra passear com a minha irmã ou ir pra academia. Era a maneira perfeita de acordar. Eu podia ligar o rádio bem alto , com qualquer coisa que me fizesse sorrir e pensar na vida , arrumar a cama , trocar de roupa e descer pra cozinha.

Fazer minhas torradas com manteiga e orégano , meu copo de chá gelado , alguma coisa tocando no rádio da sala (Secos & Molhados e Traveling Wilburys eram quase sempre os favoritos) e simplesmente sentar na mesa da cozinha pensando sobre a vida. Porque as coisas eram daquele jeito e como tudo tinha me levado até aquele lugar , ali.

Por exemplo: se eu tivesse sido menos criança e mais esperto , teria beijado aquela menina com a cara da Velma na festa de aniversário dela da sexta série. Se eu tivesse sido mais macho , poderia ter puxado a japonesa estranha pros meus braços numa festa de quinze anos. E de milhares de se's , eu chego à seguinte conclusão.

Se tudo fosse do jeito diferente , eu não estaria aqui comendo essas torradas maravilhosas. Talvez estivesse comendo-as na casa de uma dessas gurias. Talvez eu ainda estivesse dormindo , depois de um fora na sexta à noite. E não estaria aqui comendo essas torradas maravilhosas. E isso me parece perfeitamente útil. And so , a verdade é que mesmo que o The The continue gritando "this is the day your life surely change" , as coisas só acontecem porque a gente quer mesmo. E no fim das contas , a estrada sempre acaba num lugar legal. Com torradas , de preferência.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Baile Neon

"And I’m finding my rhythm
As I twist in the snow"
(Epilepsy is Dancing , Antony & the Johnsons)

Ela me sugere um baile , uma cena final de um filme qualquer , requintado e com pompa e figurinos. Eu , eu sou só mais um homem em busca da sua mão , ser seu par e seu amante , sua chance de eternidade. Um terno desalinhado , uma gravata que já se foi embora durante as horas de dança , e eu mal consigo respirar.

Ela dança com seu vestido vermelho , que mal cobre suas longas e torneadas coxas , que vão e vem em cada foxtrot , tango , samba ou valsa. Sigo-a com meus olhos , ela nem percebe a minha presença. Isso é tão comum , ninguém me percebe , o mesmo velho rosto , fabricado pra ser charmoso que some na multidão. Barba mal feita , cabelos arrumados pra parecerem desarrumados. Quando eu percebo , existem mil cópias de mim mesmo naquele lugar , todos mais ricos e prontos com um novo drinque na mão , pronto para oferecê-lo a essa dama , que dança e torna e baila e gira nas mãos dessas minhas xerox, tão malfeitos quanto eu.

Mas todos eles se submetem a ela , cochicham algumas palavras em seus ouvidos , que ela procura não ouvir , cobrindo-os com seus longos cabelos castanhos. É quase o fim da festa. Ela se aproxima do bar , onde eu passei a noite inteira , vira e me diz:

-E você , não vai me falar nada? Vai ficar aí , a noite inteira , olhando?
-Nem os melhores adjetivos que eu disser sobre você chegarão perto da realidade. E olha que eles são muitos. Mas isso é só uma cantada barata e você é só um amor platônico. Me ignora.
-Na verdade , um amor romântico. Você sabe a diferença?
-Não.
-A diferença entre um amor platônico e um amor romântico é que o amor platônico é impossível. Entendeu?

Do Que Riem os Japoneses?

O que não é a falta de inspiração ou de saco. Comecei a cavocar fundo o meu arquivo de textos , coisas aleatórias da época que eu era apenas mais um nerd sem coração pulsante. De todos os textos , apenas esse me pareceu suficientemente publicável. É engraçado perceber como as coisas mudam. Do pacifismo da sétima série à quase xenofobia dos dias de hoje , muita coisa mudou. Bem , é melhor eu parar por aqui senão a explicação fica maior que o texto.

Cada vez mais , os japoneses(se é que posso generalizar japas , chinas , coréas e companhia , ou seja , os orientais) conquistam seus lugares na sociedade. E grande parte dos com que convivo estão sempre com um sorriso no rosto , a rir de algo que não entendo.

Em todo lugar que eu vou existem japoneses sorrindo. Desde o tintureiro passando pelo feirante e o técnico de eletrônica , até o peixeiro e o dentista. Todos sorriem para mim. Acho que no Japão , não se precisa falar "xis" para fazer os japoneses sairem com sorrisos na foto. Eles riem naturalmente.

Samurais e ninjas são espécie rara hoje em dia. Nos filmes , somente eles não estão dando risadas sinceras. Suas risadas são risadas de ironia , risadas maléficas. Mas ao término de suas missões , voltam para suas gueixas e aí sim exibem um sorriso no rosto. Gostaria eu , um dia , descobrir do que riem os japoneses. Talvez a melhor forma seja se apaixonando por uma japonesa...

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Clube da Luta , de David Fincher

Eram duas da manhã. Surreal acontecimento , sua irmã acordada feito um zumbi enquanto ele esperava o computador reiniciar. Maldito teclado. Batatas fritas. Abriu a pasta e procurava por Where's My Mind. É do Doolittle. Não , não é. Foda-se o rock'n roll. É do Surfer Rosa. And here it goes again... Sua irmã deita no sofá. Ela é uma sonâmbula , só não sabe disso. O teclado não funciona. The drugs don't work , the friends don't work. It's too late. Seu pai vai acordar com o barulho do teclado. Uma última luz. Nada faz sentido. Nem o jóquei tem cavalos. Couve refogada. Bacon.

Bacon é sempre bacon. Carne de porco de qualidade por vezes duvidosa , mas bacon. Uma maldita mulher grita no meu ouvido. Pára , cacete. Uma batera 4x4 continua. Mi , dó sustenido menor , sol sustenido menor , lá. Sabonetes. Como escrever um texto em cinco minutos e nada faz sentido , nada tem cavalos. A friend. Psicose. Maria joana , adeus vou me embora meu bem. O som do teclado era realmente um incômodo , mas ele tinha fones de ouvido. Hope in my past will never work out , my little japanese. A balada do gordo. Uh , stop. A balada do gordo sempre funciona. Gordo e dando , mas que beleza. Não , é do Surfer Rosa. Faixa sete.

Where's my mind?

Velhos discos de vinis tem muita poeira. Álcool. Mistura com laranja. De posto. Biocombustível. Flex. Nadar no caribe? Só pros ricos. Garganta. A balada do gordo sempre funciona. Pixies sempre faz sucesso. Sempre vai fazer. Eu adoro matar moscas enquanto elas estão voando. Principalmente se a base é uma parede e o meu dedo deixa um rastro preto.

Fly me to the moon.

C'mon , what you are waiting for? Fight with me.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Alguma coisa acontece entre o Paraíso e a Consolação...

Uhm... digamos que hoje é aniversário da melhor cidade do mundo , São Paulo. E eu aqui posso estar sendo bairrista e tudo mais , mas eu realmente amo essa cidade. Mais do que esse pedaço onde eu vivo , um bairro não reconhecido , tremenda Zona Rural em meio à selva de pedra. Com preguiça de escrever algo novo ou desencavar um texto mediano da época da oitava série , decidi-me por alguns topthree's da cidade. Incoerências , discussões e sugestões , nos comentários , schifaizfavoire.

músicas
Envelheço na Cidade - IRA!
Trem das Onze - Adoniran Barbosa
1932 (C.P.) - Pullovers

filmes
Não Por Acaso , Philippe Barcinski
Domésticas , Fernando Meirelles
Os 12 Trabalhos , Ricardo Elias

textos alheios
Um Mate e Dois Freuds , Eduardo Fernandes
Uma Menina Chamada Paulista , Marcelo Rubens Paiva (excerto do Feliz Ano Velho)
Aluga-se , Clarah Averbuck

lugares
Avenida Paulista (Conjunto Nacional)
Estação da Luz
São Bento (Mercadão)

estações de metrô
Imigrantes
Ana Rosa
Alto do Ipiranga

trailers de hambúrgueres
Zé (Ana Rosa)
Tiozão da Saúde (Metrô Saúde)
Carlão (Rua Madre Cabrini , Vila Mariana)

And so.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Uma Lição de Nomenclatura

Uma pequena contribuição anônima que nos foi oferecida e , bem , em tempos de deserto , a gente nunca nega um texto. Antes que me xinguem , ficam os avisos: pessoas com pouca resistência vocabular , um bocado de pudores ou simplesmente vovós que não gostam de palavrões devem ficar longe , muito longe desse texto. Aos outros , divirtam-se.

...

Finalmente, ele havia chegado onde tanto queria... Depois de uma noite de jantar, setenta reais de abrigo, quinze de táxi, trinta de champagne e cinco peças de roupa, finalmente ele estava pronto para recolher o ouro mais valioso dos homens,a... só um momento... o que mesmo estamos procurando? Ah, claro, se você ler essa pergunta em menos de três segundos estará falando “A Buceta!, a Buceta”. Pois bem, amigos. É claro que é perto daí que vamos parar, mas não sem dar antes uma pequena volta pelos alpes do conhecimento.

Uma das partes mais importantes de uma relação é, sem dúvida, o sexo. Afinal, homens e mulheres sentem iguais necessidades. Até aí não significaria nada, mas esse enão é o entuito aqui hoje. Vamos introduzi-lo, leitor, com o perdão do trocadilho, ao que podemos chamar de “Apelidar seu Sexo”. Sim, porque o sexo de uma mulher é extremamente importante e valioso, digno, sem discussão, de receber um bom nome. Se você chegou aqui lendo livros como “Cinqüenta meneiras de entreter uma mulher”, “10 fatos que um garanhão deve ter em mente” ou “Torne-se um Gigolô em 40 passos básicos”, é evidente que você nunca havia pensado em tamanha demonstração de carinho que é apelidar o sexo de uma mulher (e também, claro, como isso é capaz de potencializar a relação de cama dos dois). Pois bem, aí vamos nós.

Desde a antiguidade, reconhecidamente capaz de erguer o nosso ânimo e confundir nossa ética, o tesouro que cada mulher guarda dentro de si é revelado para cada homem de maneira singular, e sua exclusividade já foi chamada de várias maneiras ao longo das épocas. Já os gregos veneravam entes de muitos outros suas capacidades, tratando-a sempre como um delicada flor, uma rosa, símbolo de femininidade. Infelizmente, eram também os gregos que só se reocupavam com seu próprio prazer, deixando as gregazinahs em segundo plano. Era necessásrio mais carinho, mais sensualidade, mais exclusividade e, por que não, mais originalidade?

“Se eu pudesse torná-la ao avesso, seria um grande vestido vermelho”. Forma aveludada, aconchegante. A mulher é um ser sexuado. E a esse sexo tão cobiçado já se deu um bocado de nomes. As garotinhas aprendem a chamá-la de baratinha, pombinha, pepeca ou até perereca, apelido que os marmanjos elevaram ao famigerado xereca.

Claro, que não são só os brasileiros que podem se divertir com tal passatempo. Ao redor do mundo, temos vários exemplos dos apelidos mais bem-sucedidos: os conhecidos Cunt ou Pussy dos nossos amigos anglo-saxônicos, tão clichetosos, mas igualmente apetitosos; as ardentes Coñas latinas, contrabalanceadas pelas sutis e sensuais Chattes francesas.

A Ilíada doa apelidos não pára por aí. É possível que os Naturalistas descubram uma romã ou um figo partido. Os amantes de frutos do mar pensariam provavelmente num mexilhão entreaberto, enquanto os poetas como alguns amigos meus encheriam a boca para elogiá-lo com expressões rebuscadas como porta de jade, templo de Vênus, gruta de coral ou o mais sincero Porta-Jóias. Os cientistas, amantes incondicionais do sexo verbal (ou virtual, quem sabe), apelidam de vulva, vagina, e os mais excêntricos generalizam no mais sem-graça dos aparelhos sexuais.

Há também os alternativos, que se utilizam das mais variadas expressões idiomáticas, e os exemplos só no Brasil são fascinantes: os vulgares e característicos aranhinha, bussanha, chapeleta, conchinha, ostrinha, tijulera e xavasca, que acabam por se generalizar nos já familiares perseguida, cona, grelo, xana e periquita, para só então culminar no mais tésico e fascinante termo já reconhecidamente brasileiro, superando até a popular xoxota: a amada buceta!

Se depois de ler aqui alguns desses populares nomes, você ainda não estiver satisfeito, pode apelidá-la como bem entender: Clarinha, Julinha ou Natalinha, ou algum outro nome feminino, que pode ser uma espécie de código entre o casal, para quando você disser a ela que “não vê a Clarinha há tempos”, esteja tudo por demais entendido.

Portanto, mãos à obra, cabeças a todo o vapor (ambas), e juntem-se àqueles que já descobriram no apelido do sexo uma maneira de aumentar a tesão. Garantia de aprovação e satisfação feminina, e de performance sensacional na noite.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Ironia de Férias

Just to say:I'm alive. Enquanto não sai nada de bom...

Estou cansado dessa rotina que massacra e atormenta qualquer tentativa de poesia na vida cotidiana. É apenas uma repetição incessante de metáforas e de situações, buscando algo que se perdeu, era vidro e se acabou. Hope in my past won't work out , mr. Dando.

A próxima via à direita está interditada.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Os Pássaros

Ontem à noite , enquanto eu ouvia pela enésima vez o meu dvd indie (um dia eu explico direito) , eu lembrei de mais uma boa razão pra amar o Teenage Fanclub. Ou melhor , duas. A primeira , é que eles fazem ótimos covers. E a segunda é que eles são seguidores fiéis da escola byrdsniana de música.

Quanto à primeira , que fique bem claro: eu comecei a gostar de "About a Girl" e considerar mais o Nirvana com a cover deles. E também conheci Pixies por "Here Comes Your Man". Além disso , eles fazem covers de Velvet Underground , Byrds , Beatles e uma improvável porém excelente regravação de "Like a Virgin". É como se o Nirvana tocasse Like a Virgin. Genial.

Mas a segunda é talvez mais importante. Conversando com o Bina na varanda da casa dele , acompanhado de bons vinis e boa Coca , eu me dei conta que talvez seja esse o meu estilo favorito de música. O estilo Byrds. Que também é o estilo Beatles no Rubber Soul. Violões , riffs preguiçosos de guitarra , um baixo não tão aparente e letras simples , porém pequenas obras-primas. É quase um sacrilégio dizer isso , mas um dos trechos da Bíblia que eu mais adoro é o Eclesiastes citado em "Turn Turn Turn" , dos Byrds. Ou é como gostar de Bob Dylan pelas versões deles.

O que mais dizer de uma banda que teve Gene Clark , David Crosby , Roger McGuinn e Gram Parsons em sua formação? Os primeiros discos , folk rock , são os favoritos. Mas o trabalho deles com a psicodelia e com o country (com o primeiro disco de country-rock , "Sweetheart of Rodeo" , de 1968) são interessantíssimos também.

Pra fechar , duas coisas. A primeira é o texto do CEL sobre os Byrds , "Pássaros Onipresentes" . A outra é o vídeo de "I'll Feel A Whole Lot Better" , que foi a força motriz desse texto. Divirtam-se.

PS: Amanhã de manhã este que vos fala se encaminha para Peruíbe , no projeto "Endless Summer". :D. Até sexta , ou sábado , ou quando a inspiração bater.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Bicicleta Para Dois

Baseado em "Black Hole" , do She & Him , ou "a banda da irmã aeromoça do cara do Quase Famosos".

A moça canta como se estivesse num bar beira-de-estrada, mezzo Jack Kerouac mezzo June Carter , em busca de algumas gorjetas e de uma companhia para a noite. Ela é garçonete neste bar e por sugestão do dono do bar , também cantava de vez em quando canções suas e algumas covers , velhos sucessos jukebox dos anos 60.

Seus olhos azuis , um vestido tão branco como a neve , cabelos negros. Branca de Neve. Já tinha vindo aqui antes. Apresentava uma nova música agora. Algo sobre sua rotina. Depois do "último cliente" , o que quase nunca era antes do sol nascer , ela ainda ia embora sozinha pra casa numa bicicleta. Pra dois.

Ao fim da música , que ela cantava com sua voz doce e um velho violão de aço com suas cordas quase todas enferrujadas , fiz-lhe um sinal. Ela veio à minha mesa me atender , mas, em vez do costumeiro conhaque que eu pedia sempre que ia ali , apenas lhe disse:

- Hoje à noite, eu pedalo com você.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O Disco dos Mistérios - Sexo Explícito


Sexo Explícito - O Disco dos Mistérios

John Ulhoa é um dos maiores guitarristas e produtores brasileiros da atualidade. Ele também tem uma mulher que gravou um disco em homenagem a Nara Leão , e uma filha com ela. Ela se chama Fernanda Takai. Junto com mais dois caras eles formam o Pato Fu, que já chegou até a ter música em abertura de novela(a cover dos Mutantes "Ando Meio Desligado") e hoje traça seu rumo independentemente do mercado.

Ok , isso não é novidade pra ninguém. Mas antes do Pato Fu , ele tinha outra banda. A Sexo Explícito , que fez algum barulho no cenário underground mineiro no final dos anos 80 e começo dos 90. Era formada também por Roger Betonera (bateria) , Mário(baixo) e o comparsa Rubinho Troll nos vocais. Rubinho Troll é o autor de algumas das principais canções do Pato Fu , como "Menti Pra Você Mas Foi Sem Querer".

Então , vamos ao disco. Nota-se claramente a habilidade instrumental da banda , o menino prodígio John já dá sua cara em faixas como "Bonanza Exorcista 1" ou "Sunshine in the Nite". A porralouquice do Pato Fu dos primeiros discos também aparece , com as mil referências pop de "Coisa Linda" ("Não gosta da Elba Ramalho? Não gosta de New Kids on the Blocks? (sic)"). Aliás , o Pato Fu regravou deste disco "O Filho Predileto de Raajnesh" em seu Isopor , de 2001. Mas a grande canção do disco é a balada "Faca 2" , lembrando os melhores momentos do Lobão.

Sinceramente? Não seria desse jeito que John alcançaria o sucesso de público ou crítica. Vale mais como curiosidade em saber o que ele faria sem a esposa do lado. Ou melhor , o que ele fez. E curiosos pra música não são difíceis de encontrar.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Fragmento de um Romance Inédito #4

Uhm... a quem interessar possa , esse sim é maconha de jornal. E o poema sobre românticos e ser um viciado em Coca-Cola é o "Na Escada".

Era um sábado nublado de inverno , como tantos outros que passaram depois que ela foi embora. Sentado na escada da Cásper , eu tentava entender como é que tudo tinha ido parar naquele ponto. Ou melhor , porque eu tava ali tomando uma Coca com o Paulo e não beijando a Sofia naquele sofá laranja.

- A verdade , Paulo , é que apesar de todas essas gurias que eu vejo por aí serem legais e tudo o mais , elas não são ela.
-Como diria o bom e velho Macca , Daniel... In the end , the love you make is equal to the love you take. Acabou , cara , já era. Ou melhor. Não acabou , vocês ainda vão se reencontrar um dia. Mas você precisa que esse um dia não é daqui a uma semana , um mês , um ano talvez. Vai demorar. Vocês dois vão precisar seguir caminhos diferentes pra poder valorizar um ao outro de novo depois de tudo que aconteceu.

Um cara tocava cavaco a certa de uns dez metros de distância. Saquei do meu bloquinho e escrevi um poema , alguma coisa sobre os românticos e sobre ser um viciado em Coca-Cola. Os carros correm na Avenida Paulista. As pessoas correm na Paulista. Isso até parece rua , meu Deus.

- Sei lá, Paulo. Mas sabe o que é bom nisso tudo?
- Uhm , você se ferra e o meu lado sádico se diverte com isso?
- Ah... boa tentativa, mas não. A cada fossa que a gente tem , a gente toma mais e mais Coca e continua andando por essa avenida e continua falando bobagem. De uma maneira ou de outra serve pra alguma coisa.
- É...
- E o melhor é que tem gente que não faz isso. E adoraria fazer. Como a Ju.
- Menina estranha essa. Mas se tu acha ela legal , vá em frente.
- Whatever. Há sempre uma luz no fim do túnel. Ou melhor. Uma Ju no fim do túnel.
- Putz , depois dessa eu até vou embora.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Um Diálogo em Desamor (Fragmentos de um Romance Inédito #3)

Um texto meio antigo que tava aqui no arquivo. Talvez nem seja parte do mesmo romance , mas ele está aí. Eu relutei um pouco em publicá-lo por algumas semanas , por alguma crueza ou coisa do tipo , mas aí está ele. E não , eu não sei se ele é maconha de jornal.

"Lena podia me salvar
Prefere se distanciar"
(Uma Canção Para Lena , Terminal Guadalupe)

- Eu me sinto uma criança perto de você.
- Não é bem assim. Você só fez suas escolhas.
- Mas se você parasse agora de viver já terá vivido muito mais do que eu vou viver durante toda a minha vida. Você já fumou , já bebeu , já usou maconha , já ficou várias vezes com pessoas do mesmo sexo , já fez sexo de maneiras estranhas... E eu gostaria muito de acreditar naquela velha teoria que diz que se você escolheu ficar comigo , é porque você preferia. Simplesmente não é verdade hoje.
- Daniel , se acalma!
- Eu te odeio, Sofia!
- Quê?!
- Eu te odeio e te amo e a gente não pode ficar junto e você quer viver a sua vida e eu quero viver a minha com você e você não quer viver comigo.
- Eu não devia te pedir isso porque eu sei que não é fácil. Mas por favor , me esquece. Pode até me tratar com indiferença , mas não me odeie.
- Não tá dando pra não te odiar ultimamente , Sofia.
- Daniel , você tem que entender uma coisa: você leva tudo muito a sério , e às vezes isso não é tão bom. Sei lá , eu gosto de você , eu gosto mesmo de você ,e mesmo com todos os seus defeitos e as nossas diferenças , se fosse pra escolher alguém pro resto da vida , seria você.
- Não faz diferença. O importante é o agora , e agora você não me quer.
- Pára com isso. Eu sempre quero te ver bem , e ver você mal assim me deixa mal. Saber que é culpa minha é pior ainda. Desculpa.
- Pára de pedir desculpa.
- Tá...
- Sofia?
- Que foi?
- Vai à merda.

Chico Balboa

Nem bem o ano de 2009 começou e algumas canções despontam já. O Terminal Guadalupe liberou pra escutar no myspace deles a bela "Chico Balboa" , mistura de acalanto ao filho do líder Dary Jr. com homenagem ao grande Rocky. O solo de Allan Yokohama e o coral infantil são algumas das melhores coisas já feitas pelo grupo curitibano.

E tem o disco novo da Pública. "Como Num Filme Sem Fim" é um mais do mesmo maravilhoso que a Pública faz. Pianões , guitarras brit anos 90 e letras maravilhosas. "Casa Abandonada" , "Há Dez Anos ou Mais" , a infantil "Sessão da Tarde" e a faixa-título são favoritas da casa.

É isso.
2009 tá aí.