Um conto de carnaval pra quarta-feira de cinzas. Ah, Mel , obrigado pela info! :D (detalhe bizarro: o texto foi parido ao som do Kid A do Radiohead. Mais carnavalesco impossível!)
"Delírio sensual , arco-íris de prazer
Amor , eu vou te anoitecer"
(Sonhar Não Custa Nada , Mocidade Independente de Padre Miguel)
Quarta-feira de cinzas à tarde não significa fim de carnaval pra mim. É o momento mais empolgante depois do desfile da minha querida Mocidade. A apuração das notas. Não sei , não me pergunte porque eu gosto tanto daquilo. Eu nem gosto de números , só mato aula de Matemática, - pra ficar batucando lá na quadra e observar as passistas ensaiando , que fique bem claro - mas eu adoro a apuração.
Não sei se vocês sabem , mas tem muita aula de Matemática. E tem uma passista , aprendiz de porta-bandeira que é a pura perfeição de Joãosinho Trinta Nosso Senhor na Terra. (Joãosinho Trinta é O cara. Desde molequinho pé no chão com "Sonhar com Rei Dá Leão" até uns anos atrás com o Ratos e Urubus , eu presto reverências a ele). Sério , aquela mulata faz meu coração palpitar feito a nossa bateria nota 10.
Mas voltando à apuração. Esse ano a gente veio bem. Belo desfile , um samba lindo, "Sonhar Não Custa Nada" , a gente tá no páreo. E o que eu mais quero é ver aquele sorriso na cara da minha princesa , minha Dona Zica se eu fosse Cartola. A comunidade toda na quadra , quatro horas da tarde , televisão ligada na Globo. Expectativa total.
À medida que as notas vão sendo anunciadas , vou vendo o medo aparecer. A minha musa aperta com mais força a bandeira da escola , rói as unhas pintadas de branco e verde , chora , grita , se desespera. Eu sambo pra não chorar , foi um desfile genial do Renato.
Ao fim da transmissão , não tem mais jeito. Estácio campeã , e a minha Mocidade vice. Não há nada a fazer senão chorar. Epa epa epa , peraí , mas é uma história de carnaval , então não tem que ser triste. Vamos achar logo esse final feliz. Esquece esse "senão chorar". Rebobina a fita , ou melhor: volta a escola pro setor 1.
Ela chora. No espírito da comunidade , eu acabo decidindo ir falar com ela.
- Não chora não , que ano que vem tem mais. E sonhar não custa nada.
- É , eu sei. Você é o André né?
- Peraí , como é que você sabe o meu nome?
- E você acha que eu não reparei nos teus olhares em todos os ensaios? Além disso , você tem cara de quem tem samba no pé.
- Eu?
- É. E eu preciso de um par pra poder ensaiar. Quer ser meu mestre-sala?
4 comentários:
Aí sim. Esse é uma belezura de Joao de Melo depois de uma sinuca no Domingão. É isso aí, carnaval é alegria. Mas eu naõ osto quando a mocidade vence =]
Esse final não podia ser mais Noa! Mesmo!!!
No entanto, em algumas partes parece o Zóide falando. Pelo jeito do personagem narrar eu não daria mais que 15 anos pra ele. Enfim, eu gostei!
(Zóide, em 92 a Magueira ficou em 6º!)
muito zóide o texto (2)
não conheço os do zóide e gostei do teu :)
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