quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Santiago

"Cerca o peixe, bate o remo, puxa corda, colhe a rede, ô canoeiro, puxa a rede do mar".
(Canoeiro, Dorival Caymmi)

Qualquer dia desses compro umas pranchas de madeira , umas boas ferramentas e me fecho na oficina durante um bom tempo pra fazer um barco. Boto o violão no saco, uns bons livros, algumas roupas e uma vara de pescar e levo o barco pro mar. E saio mar aberto mar adentro a procurar dentre as ondas não um sentido pra viver , mas uma conexão entre eu mesmo e a natureza.

Falando assim eu sei que sôo como um intelectualóide procurando a iluminação. Não é bem isso. Eu só queria realmente sentir o mar. Conviver com o sal e o sol , passar os dias a pensar e esperar um marlim ou um atum morder a isca , limpá-lo e cozinhá-lo e comê-lo com um pouco de arroz comprado no armazém á beira-mar. De vez em quando um jornal com os resultados do futebol e no fim do dia uma boa cerveja preta na mesa do bar. Chamar-me Santiago ou Dorival ou qualquer outro nome de pescador.

Porque a vida pode ser feliz sendo simples. Porque me parece muito mais amarga a morte cinza da cidade. Porque é doce morrer no mar, nas ondas verdes do mar - mesmo com todo o sal curtido na pele bronzeada de sol. É doce, doce morrer no mar.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Olhos Abertos

Sim, eu sei que já passou da época de um blog ser mantido apenas com letras de músicas - algo que eu fazia na finada Padoca do Mutante na época da sexta série -, mas Janeiro está pra acabar e eu percebi que acabei não escrevendo nada sobre o fim do ano , o fim do ETAPA e esse tipo de coisa. Não sei se eu tenho taaaaaaanta coisa pra escrever assim , ou se é falta de prática mesmo. Só sei que dessa vez - assim como antigamente - vou deixar outros falarem por mim. Essa canção está no disco de 72 da Elis, e é um daqueles achados que a gente não entende porque não conheceu antes. Espero que daqui a alguns anos eu possa cantar essa música e perceber que as coisas continuaram bem.

Olhos Abertos
Rodrix/Guarabyra

Atravessando uma ponte de noite, no meio da chuva
Cercada pelo silêncio daquela cidade do interior
Depois da ponte uma estrada de terra, molhada de chuva
Cercada pelo silêncio e sem nenhum pedaço de amor

Vendo os olhares desertos de tantas pessoas antigas
Tantas pessoas amigas querendo um cigarro e um carinho
Gente que puxa uma briga na estrada, com os olhos brilhando
Precisa só de um abraço, bem forte e bem dado

E eu quero encontrar as pessoas
De mãos e olhos abertos
Sem me preocupar com dinheiro e posição

Eu preciso encontrar as pessoas
Ficar de mãos dadas com elas
Conversar com a boca e os olhos do coração

sábado, 2 de janeiro de 2010

MTV Apresenta Autoramas - Autoramas

MTV Apresenta Autoramas Desplugado - Autoramas - 2009

"Gente boa pra te divertir". A frase, que está na canção que abre o álbum, "Gente Boa", mostra exatamente o que são os Autoramas: uma das bandas mais importantes do cenário independente nacional, com o habilíssimo Gabriel Thomaz na guitarra (aqui, no violão) e na voz, o baterista Bacalhau e uma mulher no baixo - a vaga que já foi de Simone e de Selma hoje é ocupada no mesmo alto nível por Flávia Couri. O rock vigoroso e recheado de influências da surf music e da new wave do grupo aqui desplugado apresenta-se dançante até a medula.

Seja no balanço maroto de "Samba Rock do Bacalhau" - que emula "Meu Nome é Gal" -, na vibração espanhola de "Hotel Cervantes" ou nos rocks acelerados e inteligentes , como "Muito Mais", a banda botam todo mundo pra se mexer na sala, com direito a saia de bolinhas, rabos-de-cavalo e topetes com brilhantina.

Thomaz ainda aproveita o especial pra fazer um apanhado geral da sua carreira, relembrando a famosa parceria com os Raimundos, "I Saw You Saying (That You Say That You Saw)" e a ancestral banda Little Quail and the Mad Birds, com "Galera do Fundão". Faixas importantes do trio também não ficam de fora, como as românticas "Copersucar" e "A 300km/h" - que ganhou um ar meio faroeste com a participação do guitarrista Big Gilson.

O destaque do álbum fica com a dobradinha de participações especiais em "Música de Amor" e "Sonhador". A primeira conta com a participação de Erika Martins, mulher do vocalista e ex-Penélope e Telecats, e o que já era pop e fofo no original ficou ainda mais radiofônico aqui com a voz de Erika. Já na segunda, que mostra a versatilidade de Thomaz como compositor, brilha a presença de Frejat nos vocais.

Num show que revisita o trabalho do trio, os Autoramas vêm a 300km/h na sua direção - sem freio - e fazem questão de serem ouvidos por você.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Dou Fé

Nada que uma fila burocrática não faça... ademais , é só um recomeço.

Como é triste o homem do cartório...

Carimba e assina e confere e cobra
Confere e cobra e assina e carimba.
Cópias autenticadas sem valor econômico ad nauseam
Repetidas em três laudas com firma reconhecida

Todo dia a bater o ponto
Chamar o próximo e o próximo
Uma fila que não acaba nunca
O relógio que nunca chega às seis.
Uma vida que se acaba rápido...

Como é triste a vida do homem do cartório!

(Dou fé, neste ano de Nosso Senhor Jesus Cristo de dois mil e nove, pela autoridade a mim reconhecida, que estas linhas supracitadas conforme datavênia doravante nada significam).

domingo, 4 de outubro de 2009

(Vivo?)

Só pra dizer que eu tô vivo mesmo , passando bem e respirando.

É que nos últimos tempos eu tive de trocar a ficção pelas redações da versão etapada da Vênus das Peles e me concentrar com periféricos e teses em vez de motoboys e ônibus lotados. E não as publico aqui pois tenho pena do tempo de vocês. XD

Enfim.

Seguimos com o Eduardinho way-of-life e tá tudo certo.
Ro-naldo!

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Sobre a Arte de se Fazer Uma Mixtape

Um post atípico, só pra comentar essa que é uma das atividades mais divertidas dos tempos modernos. Ou praqueles 10 minutos que faltam do tempo mínimo de um Simulado NENEM. ¬¬

Gravar uma coleção de músicas não é tarefa pra qualquer um. Não é simplesmente escolher uma seleção de dez (como cabiam nas antigas fitinhas K7 que meu pai ou Rob Fleming gravavam) , quinze ou vinte canções (nos CD-Rs que hoje a gente usa e que sinto que entrarão em extinção com pen-drives. Vale lembrar: um pen drive com quinhentas músicas passa longe de ser uma boa mixtape). Tem que saber escolher e ter noção.

Depende , é claro , do seu propósito com a "fitinha". Se você quer pagar de mala com aquele seu amigo que também literalmente escava bandas , se você quer impressionar aquela gata da sua sala , do seu escritório ou do seu prédio , se você quer simplesmente mostrar quem você é a uma pessoa desconhecida. Bom senso é fundamental. As regras variam de acordo com o objetivo , mas algumas coisas são fundamentais:

1 - Nunca coloque as músicas mais "arrasa quarteirão" de uma vez só. A pessoa que vai ouvir se entusiasma com as primeiras , depois cansa e seu disquinho foi pro buraco , amigo.

2 - Pense numa sequência pras músicas se encaixarem. Ou simplesmente tenha noção de aumentar ou diminuir os bpm's ao longo do tempo. Colocar Ramones e depois Joan Baez pode fazer todo o sentido do mundo pra você , mas vai chocar o ouvido do seu alvo. (A menos que ele seja aquele vizinho chato que você quer literalmente irritar).

3 - Não seja desleixado com o visual. Uma idéia visualmente bem apresentada ajuda. E muito.

Tem outras coisas , mas aí é muito particular: tem gente , como eu , que gosta de escrever alguma coisa sobre a seleção em geral ou sobre as músicas em particular. Cada música tem um pequeno significado , uma razão de estar ali , ora essa!

Claro que fazer tudo isso dá trabalho. Mas é muito divertido! Eu juro. Mesmo. :). O que você está esperando pra fazer a sua?

domingo, 23 de agosto de 2009

Menino, Menina

"Vem morar comigo nesse apartamento
Estamos uns sobre os outros
E temos satisfação"
(Pavão Macaco, Wado)


Sim , agora eu quero ir a fundo nisso tudo. Agora que você sabe que eu já te amo tanto e eu sei que você me ama, eu quero conhecer seus pais , seus irmãos , seus avós e a sua cachorra. Quero te chamar pra tomar um sorvete no domingo à tarde com sol na pracinha perto da sua casa, um vestido florido e uma flor no cabelo.

A ordem das coisas se altera sem você. Os livros da estante continuam lá , intocados , a não ser por algumas palavras que eu roubei deles pra te fazer sorrir. Os meus discos também já não tocam mais. Tudo o que eu quero ouvir é o som da sua voz , meu abrigo e meu destino. A vontade de te encontrar (e eu não encontro razão) , uma mensagem de amor.

E enquanto o tempo passa rápido demais , eu não vejo a hora dele passar mais rápido ainda. Eu quero ir morar com você , esperar você chegar em casa com a comida pronta e a mesa posta à luz de velas. Eu quero te dizer boa noite e bom dia todos os dias , ver o teu sorriso antes de sair correndo pra rua. Dormir ao teu lado , tendo certeza que eu divido a cama com a mulher que eu amo.

Terna e totalmente , amo.

sábado, 22 de agosto de 2009

De Maneira Alguma Tragicamente

É muito tarde , é tão tarde que eu mal consigo escrever um texto inteiro e mantê-lo com nexo. Eu não sei exatamente o que eu quero dizer agora, uma vez que meus ossos doem depois de dias e dias nesse deserto de sal e concreto que me quebra em duas partes e acaba sendo o que importa. (Mesmo que hoje eu só cante a canção do velho Zé Rodrix).

Mas no fundo , no fundo , eu só sei de uma coisa: eu queria ser apenas aquele muro vermelho pichado no caminho do metrô (de maneira alguma tragicamente).

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Deserto de Sal

Mesmo com todos os lados bons e os fatos felizes que habitam a minha vida , há a impressão de viver num deserto de sal. (Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo).

Deserto de Sal
(Wado/Alvinho)

Se a tristeza fosse tanta que permanecesse muda:
Então seria pior
Ainda há esperança no chorar soluçante,
No cantar gritando
Nos ombros, como papagaios, carregava corvos
E dentro dos lábios o silêncio mudo
No peito um cemitério de ex-amigos mortos

E enterrar os mortos, desapegar os ossos
Confirmava a vida o que é bom: desprendimento

Ainda há vontade de andar: o que é bom
E embotado nos olhos,
O negrume vazava de dentro da carne

No peito um cemitério de velhos sonhos mortos
Nenhum plano vagava no deserto de sal
E num dado momento parecia até que o sol ia nascer
E era mais uma estrela decadente
No deserto de sal

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Luz de Poste da Rua

Para Camila de Lima Leal

"Amo somente o vazio e me acalmo danando"
(Me Acalmo Danando , Ângela Rô Rô)

Ela abre a janela e fica pensando na vida. Nas tantas mudanças de casa , num mundo melhor , na solidão de se viver numa cidade grande sem amigos por perto pra chamar prum passeio a qualquer hora num dia de semana. A luz do poste da rua ilumina a sua face justamente no momento em que ela só pede um cigarro e um copo de cerveja pra poder dormir feliz.

Há alguns meses que ela não sabe o que é sentir um cara. Não no jeito físico , isso é facilmente resolvível em um canto ou buraco , uma ida pra cidade antiga , qualquer coisa enfim. Ela precisa de um homem. Um homem que ela possa ligar às três da manhã pra não se sentir sozinha. Um cara atento às suas necessidades , mas que ela não precise dar satisfações. Que esteja lá pra lhe dar bom dia e dizer que ela é linda com um sorriso no rosto e uma bandeja de café da manhã na mão pra ela tomar na cama.

Mas ela não vê esse cara no seu mundo. Ele simplesmente não existe , e os que existem ela descobre um jeito estranho de repeli-los. Talvez não seja um problema dela , seja simplesmente o mundo moderno - old fashioned boys and post-modern girls. Ninguém sabe o que fazer nesse momento. Nem ela mesma.

São cinco horas da manhã. O sol começa a sair tímido na janela do seu quarto. É um novo dia a ser encarado - sem qualquer esperança de novidade. Mas com uma xícara de café fumegante pra aquecer seu coração. Por enquanto.