Tá , você já deve estar cansado de saber que o Erasmo Carlos é "O Tremendão", o amigo de fé irmão camarada do nosso Rei Roberto. Que todas as músicas que o Roberto escreveu foi com ele e coisas desse tipo, e que o Erasmo tinha que manter a sua fama de mau na época da Jovem Guarda. O que você não deve saber é que nos anos 70, enquanto seu camarada inventava de fazer soul brazuca e depois música religiosa pra empregadas e gordinhas, o nosso bom e velho Erasmo aqui teve sua fase hippie alternativo psicodelia maravilha.
É uma fase que teve início com o disco anterior, "Erasmo Carlos & Os Tremendões", onde ele cantava pérolas como "Coqueiro Verde", "Sentado à Beira do Caminho" e regravava belezuras como "Saudosismo" (Caetano), "Teletema" (Antonio Adolfo/Tibério Gaspar) e pasmem... "Aquarela do Brasil" (Ary Barroso).
Mas é nesse disco aqui, com capa com jeitão de caminhoneiro Carga Pesada, que ele finalmente mete o pé na porta e acaba cometendo um dos melhores discos feitos no Brasil. Pra começar, um samba-rock classudo, "De Noite na Cama" (depois regravado por Marisa Monte), do Caetano. Passa à balada "Masculino, Feminino", um lindo dueto com Marisa Fossa que marca bem a sonoridade "maravilha" da época, com ecos de Burt Bacharach , mas também da psicodelia do Jefferson Airplane e do Mamas & Papas.
Essa mesma sonoridade aparece também na romântica "Ciça , Cecília" (que emula os primeiros trabalhos de Tim Maia ,e portanto ,também a Motown), "Em Busca das Canções Perdidas Nº2" e na gospel (olha o Robertão aí gente) "Sodoma e Gomorra". Erasmo mostra seu lado samba-rock também em "26 Anos de Vida Normal" (dos Irmãos Valle) e em "Agora Ninguém Chora Mais", de Jorge Ben.
O lado hippie responde por pérolas como "É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo", "Dois Animais na Selva Suja da Rua", do uruguaio Taiguara, "Mundo Deserto" - um soul gritado à maneira de "Respect" que depois seria interpretado por Elis Regina no LP "Ela" - e na maconhada "Maria Joana", com versos como "na vida tudo passa/o amor vem como nuvem de fumaça".
Depois disso , Erasmo ainda faria outros discos bem semelhantes e igualmente interessantes nos anos 70 , como "Sonhos & Memórias", "1990 - Projeto Salva Terra" e "A Banda dos Contentes". Nos anos 80 , volta com força total no disco "Mulher" , com "Minha Superstar", "Pega na Mentira" e a faixa-título. E até hoje participa de revivals da Jovem Guarda...
Um comentário:
O "soul brazuca" que Roberto fez é muito bom, na minha opinião.Acho "Jesus Cristo" uma grande canção, para ficar com um exemplo.Agora, a parte das empregadas e das gordinhas, o rei poderia ter pulado.
Abraços!
Postar um comentário