quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Grace - Jeff Buckley

Jeff Buckley - Grace (1994)

Primeiro , algo importante sobre este disco:você nunca viu ou nunca verá tão parecido com ele. Pode buscar similaridades mil com outros artistas (que é algo que farei nas próximas linhas) , mas nenhum deles uniu tais atributos em um álbum só.

Segundo: mas quem é esse tal de Jeff Buckley? Filho de pai ausente e genial (Tim Buckley , trovador maldito dos anos 60 que misturou rock , folk e jazz), criado por uma mãe severa e um padastro que foi bem legal com ele , dando-o discos do Led Zeppelin. Dono de uma voz potentíssima , com enorme extensão vocal de cinco oitavas (para os leigos: a normal para os humanos é de apenas duas) , usa-a com toda a propriedade. Estudou guitarra insanamente na adolescência , e de certa maneira , por esses dois últimos fatos , encarnou vários mitos em seu próprio corpo.

Buckley foi Nina Simone ao usar sua voz com tal doçura e sofreguidão em suas canções que até chega a incomodar (e dela fez um cover , "Lilac Wine"). Foi Page & Plant em "Eternal Life", facada guitarrística em corações solitários e tempestuosos. Foi Van Morrison ao usar símbolos e metáforas aliados a uma riqueza melódica e a uma voz inconfundível. Foi Cohen e foi Morrissey em uma melancolia poética , quase niilista. Foi Cobain ao explorar o ruído e a dissonância e ao morrer de forma trágica deixando uma obra curta pra trás.
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Mas também foi ele próprio ao unir tais caracteres. Seus arranjos soam ao mesmo tempo simples , mas refinados e intrincados. É um filho bastardo do rock alternativo dos anos 90, do folk sessentista e do jazz. Começa underground tocando em botecos (como podemos ver no EP "Live at Sin-è") e conquista fãs como Bono Vox e Paul McCartney. Termina sua vida de maneira tragicômica , morrendo afogado no rio Mississippi ao som de "Whole Lotta Love".
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Assume-se um amante bêbedo em "Lilac Wine" , pede desculpas e sente-se miserável em "Last Goodbye" , declara que o amor não tem fim na pungente "Lover , You Should've Come Over", mostra-se sobre o efeito de drogas em "Mojo Pin" e busca a redenção na desperança , como na irretocável regravação da "Hallelujah" , de Cohen. Nota: o próprio Cohen declarou isso.

"Grace" , de 94 , é seu único disco em vida. Não digo que foi suficiente , pois um grande artista sempre terá algo a oferecer - desde obras-primas tardias , como o SMiLe de Brian Wilson , até um espetáculo da decadência , à maneira de Michael Jackson , por exemplo. Mas definitivamente colocou o nome de Buckley entre os gênios de uma época.

"Jeff Buckley é uma gota cristalina num oceano de ruídos" (Bono Vox)

5 comentários:

Stela disse...

Bruno! Eu simplesmente AMO o Jeff Buckley. É o som que não falta na trilha sonora da minha vida. 'Grace' é absurdamente lindo (aliás, o próprio Jeff era de uma beleza física absurda. pausa pro suspiro feminino!).
Tenho no meu MP3 player, no meu carro, no meu notebook, no meu quarto! Na minha vida Jeff é meio Deus: onipresente!

Também escrevi sobre ele em 2007 (não com a mesma propriedade que vc). Mas olha lá (só pra provar meu amor):
http://artificialflavored.blogspot.com/2007/10/maior-que-blogosfera.html

beijo beijo!

=)

60B disse...

na boa, quando eu finalmente tento algo de pseudo-jornalismo você vai e posta esse. pqp, vomo você ainda não trabalha na rolling stone?

não sei da onde tirou todas essas informações, mas mesmo sendo cópia de algum texto ficou foda. me fez até baixar o cd.

mas no ep do dvd indie ele canta com mais emoção haha

Anônimo disse...

bom

Hugemiler disse...

Cara, sinceramente.

Eu te devo os parabéns pelo Jeff Buckley. Extremamentemente bom.

Acabo de perceber que gosto amis dos seus pseudo-jornalismos que dos seus textos depressão/melancolia... tomara que continue assim. O sucesso é graantido, e o meu nome é o terceiro na lista do churrasco, hein!

Detalhe: eu vou baixar essa budega. provavelmente eu vou gostar, como bom paga pau, ops, assimilativo que sou =]

Gabriela Ventura disse...

é uma belíssima resenha. Grace é realmente um dos grandes cds da minha vida, e a voz de jeff me acompanha onde quer que eu vá. Parabéns, rapaz!